Perfeitamente rendido em fazer viagens de Honda Monkey, tomei, finalmente, a decisão. A cedência ao chamamento desta motinha icónica levou-me a descobrir a história de um veículo único e a viver uma experiência ímpar. Uma enorme surpresa tridimensional que confirmou que tamanho não é documento. Ou que as pequenas vão onde vão as grandes…
- Por: Jorge Casais
- Fotos: Jorge Casais
Antes de mais, um pouco de história. A pesquisa na internet sobre a Honda Monkey levou-me a descobrir que a versão original veio a público em 1961, como um brinquedo para crianças no Japão. Algo que desconhecia em absoluto! E tal foi o sucesso que levou as “crianças grandes” a quererem também ter uma. Desta forma, lá teve a Honda de desenvolver a Z Series para garantir a legalidade da sua circulação em estrada. Uma motinha com apenas 50 cc e uma caixa de 3 velocidades que dispensava embraiagem, e que pode ser vista nesta foto de Holger Sahlmann. Mais recentemente, em 2018 a Monkey ressurgiu numa nova configuração e, em 2022, recebeu uma remodelação que foi além de uma simples ‘lavagem de cara‘.
Bem, mas chega de paleio e vamos lá ao que interessa. E o que interessa é dar a resposta à questão que todos fazem quando se compra uma moto nova. Afinal, tenho ou não gostado e divertido com esta pequena mota? A resposta é muito simples. Até agora, sobretudo depois desta primeira volta a sério, em que até ‘off road’ ligeiro fiz com ela, estou de facto a adorar.
Preparativos para a grande aventura
Antes de mais, e voltando um pouco atrás pois o desafio foi conseguir trazer, à última da hora, a Honda Monkey de férias comigo, tenho de fazer alguns agradecimentos. Ao Tiago Sousa da Motoboxe por ter conseguido arranjar a motinha a tempo e horas. Mesmo se ainda faltam alguns extras que lhe darão ainda mais raça… Ao Ricardo Romano e o Ricardo Oliveira por terem conseguido engendrar uma geringonça – muito bem concebida, diga-se – para enfiar a bicicleta e a moto dentro da Caddy. E ao Paulo Faia que lá enfiou os habituais gadgets de navegação e não só…
O próximo passo, e para não ter mesmo trabalho nenhum, será a colocação de um guincho elétrico e uma forma de prender aquela rampa amovível, para evitar barulhinhos irritantes durante as viagens. Quanto a acessórios alguns já estão encomendados mas existem outros que eventualmente o meu amigo Nuno Almeida da Touratech Norte, que também possui uma Monkey toda artilhada, possa vir a aconselhar meter nesta moto diabólica.
Alguns amigos meus acharam estranho que, tendo sempre tido uns canhões jeitosos, tenha optado por esta moto pequena e sem motor. Afinal se iria tirar algum partido desta mini-bomba. Só mesmo de quem não me conhece bem, pois desde que tenha duas rodas e seja japonesa está garantido o sucesso… Pois bem, vamos ao que interessa e como afinal de contas esta passeata, debaixo de um calor bastante intenso, até Alcoutim? MARAVILHA.
De férias com a Honda Monkey
Sim, é verdade, uma verdadeira maravilha. Adorei todos os minutos e km que percorri na companhia da minha macaca. Desde a saída da garagem do hotel até ao último metro. O planeamento do passeio até Alcoutim e regresso ao hotel foi realizado de forma absolutamente diferente do habitual quando vou dar um giro de moto. Na estreia da Honda Monkey não usei o Garmin mas apenas o Google Maps. Recentemente apercebi-me que, planear uma rota no Google Maps e colocar a opção de bicicleta, os caminhos pelos quais tenho ido na minha Giant Trance têm tido uma forte componente de ‘off-road’. Ora bem foi mesmo isso que fiz.
Coloquei esta opção e lá fui até Alcoutim. Foram uns estradões bastante ‘soft’ mas que deram um gozo enorme. A par com a Honda Monkey adquiri um capacete aberto. Um HJC V31 em fibra com pala de sol. Confesso que estou a gostar imenso dele muito embora reconheça que a sua capacidade de proteção é limitada.
Estava então a chegar a Foz de Odeleite com um enorme sorriso de satisfação pelo gozo que esta macaca me proporcionou neste fora de estrada. O conforto em estrada é bastante satisfatório, já fora de estrada tem muito que se lhe diga. É óbvio que as suspensões são simplistas e saltam muito e sem leitura correta do terreno. Mas não tem mal porque o meu amigo Nuno Almeida já anda a estudar uma solução que não passe pela Öhlins. Ou não fossem estas demasiado caras para estar a investir numa motinha destas…. Acho que não faz sentido, no entanto, se conseguir uma melhor leitura do terreno a baixo custo tanto melhor. Vamos lá a ver o que é possível arranjar.
De Alcaria a Alcoutim
A partir de Alcaria e até chegar a Alcoutim o percurso foi todo em estrada, muitos km de off road ficaram então para trás. Passei Foz de Odeleite, Álamo, Guerreiros do Rio e, antes de chegar a Montinho das Laranjeiras, voltei a ver a indicação de Vila Romana. Digo voltei porque já percorri algumas vezes esta estrada, tanto com a Honda ST como com a Yamaha T7, e nunca me deu para parar. Mas desta vez parei e, bolas, estava fechado para visita. Fica a intenção e algumas fotos feitas no local. Fotos onde, claro está, teria de aparecer a macaca. Até porque vaidade não lhe falta. E a Honda Monkey não é engraçada e bem composta apenas de lado. Também de frente tem um “look” muito fixe.
Reforço a ideia de que a moto até é bastante agradável de conduzir para alguém da minha estatura. É claro que aquelas subidas mais acentuadas se fazem sentir, mas nada que mandar uma ou duas mudanças abaixo não resolva. Além do mais, já diz o ditado, devagar se vai longe… Bastante devagar até porque havia as paragens para a fotografia, como aconteceu antes de entrar na agradável EM507. A determinada altura mais uma paragem no Miradouro do Pontal onde podemos ter uma bonita paisagem com o Guadiana ladeado “pelos seus morros”. Rio que, nos locais onde possui caudal, é muito bonito, principalmente na Primavera e no Outono.
O objetivo para este dia estava ali bem perto, faltavam apenas meia dúzia de quilómetros. Mal cheguei a Alcoutim fui até a um local, não muito interessante se olharmos para terra, pois damos de caras com um cemitério. Mas o que era realmente interessante estava do outro lado do rio, na outra margem. Onde pontifica a bonita localidade espanhola de Sanlúcar de Guadiana.
O outro lado da fronteira
Em tempos, quando andei a percorrer as fronteiras entre Portugal e Espanha tinha ficado do outro lado a ver Alcoutim, mas desta vez foi ao contrário. O calor era muito pelo que deixei a ideia peregrina de dar uma voltinha a pé por Alcoutim e apenas circulei com a Honda Monkey pela localidade. Além disso, apenas uma curta paragem junto ao castelo e uma outra junto ao cais de Alcoutim.
Em ambos os casos não resisti a fotografar a aldeia de Sanlúcar de Guadiana. É realmente uma mancha branca muito bonita no meio de toda aquela “secura”. Uma curiosidade. Quando percorri as fronteiras de norte a sul percebi que a distância, por estrada, entre Sanlúcar de Guadiana e Alcoutim são cerca de 70 km… Mas de barco são apenas algumas centenas de metros. E, claro, como não podia deixar de ser, mais uma sessão fotográfica à macaca.
Altura para sublinhar que, para já, a única alteração que a mota tem são as manetas da Puig 2.0. Optei por estas manetas não por serem esteticamente mais bonitas, mas sobretudo porque, em caso de queda, não se partem tão facilmente. Mesmo sem quedas, o calor abrasador apanhado até à saída da vila parece ter rebentado com o cérebro do telemóvel. O que obrigou a outra aventura nesta estreia aos comandos da Honda Monkey.
No meio de Alcoutim, perdido na procura da direção à Barragem de Alcoutim, tive de pedir ajudar a dois GNR. Que, atrás do seu jipe, tiraram-me da localidade e levaram até um ponto da estrada onde não havia que enganar. E, afinal de contas, nem era assim tão difícil de sair de Alcoutim e ir em direção à barragem.
A GNR e a velocidade alucinante
E mesmo sabendo que muito dificilmente os dois guardas lerão esta memória, deixo, contudo, aqui o meu agradecimento pela simpatia e pronta disponibilidade para ajudar. Quanto à barragem propriamente dita, verifiquei que até que estava relativamente cheia. Pelo que, por vezes, não entendo as notícias catastróficas sobre a falta de água no Algarve. Mas se calhar sou eu que sou muito cético ou desconfiado.
O regresso foi muito ao sabor do vento. Não tinha efetivamente nada planeado. Voltei a introduzir no Google Maps o destino, com a opção de bicicleta, e lá vim eu todo contente por mais umas estradas bem bonitas e por uns estradões também fantásticos e bem rolantes. Um regresso com muito mais estrada que ‘off road’, mas também já começavam a ser horas de regressar para o resort. E aqui consegui atingir a velocidade estonteante de 90 km/h. Gostei da estabilidade da Honda Monkey a esta velocidade bem como do poder da travagem que a mesma revelou.
É claro que não é muita velocidade, mas, dada a dimensão da macaca, parece que vamos a 200 km/h. Uma sensação semelhante à oferecida pela condução de um daqueles karts com motor de puxar água, achando que vamos a conduzir um Fórmula 1. Quanto aos pneus de origem são, em estrada, mais do que razoáveis, mas fora de estrada deixam muito a desejar. Várias foram as situações em que a macaca parece ter entrado em modo de autogestão, e tal não foi apenas por causa da sua suspensão saltitante. Mas no final da viagem, quando for deixar a moto à Motoboxe para montar o resto da tralha encomendada, vou acatar a sugestão de calçar os tais Dunlop K180.
O regresso a pensar no ACT
Voltando ao passeio e ao regresso, foi feito, como já se disse, ao sabor do vento, e com algumas alterações à rota. Mesmo se o tempo estava cada vez mais curto para regressar. O facto é que estava a gostar tanto da estreia da macaca que estava a custar o regresso.
A certa altura dou de caras com um local que me pareceu familiar e onde parei com o João Araújo quando fiz com ele o Adventure Country Track (ACT) em outubro de 2019. O local era de facto o mesmo, mesmo se as máquinas são um pouquinho diferentes. Agora, que já estou convencido de voltar a fazer o ACT com a Honda Monkey, só tenho de convencer o Paulo Faia para me acompanhar neste desafio extremamente fantástico. E então quando chegamos a Cacela Velha a sensação de dever cumprido é única…
Tal como foi única a sensação de ser ultrapassado por uma Yamaha MT07. Momento em que, vá-se lá perceber porquê, deu-me para ir atrás dela. Enfim, podia dar-me para pior. Já tenho idade para ter juízo e deixei-a ir. E fui até ao resort com um enorme sorriso no rosto, depois desta voltinha de 140 km.