O estilo é marcadamente retro. Porém, a tecnologia é a mais moderna. Assume-se como homenagem à Dream CL72 Scrambler de 1962, mas é baseada na CMX500 Rebel de 2018. A Honda CL500 enquadra-se num dos segmentos da moda, o das ‘scramblers’, mesmo se o processo de criação foi diferente do usual. Partir de uma ‘cruiser’, alongada e superbaixa, para criar uma moto de condução de costas direitas não será o ‘modus operandi’ mais ortodoxo. Mas que resulta na perfeição para quem só pode conduzir uma A2, como para os mais experientes que buscam facilidade e economia… com muito estilo.
- Texto: Paulo Ribeiro
- Fotos: Zep Gori e Ciro Meggiolaro/Honda
Uma fuga ao convencional esteve na origem da Honda CL500. Uma plataforma pouco usual como ponto de partida e uma equipa de jovens engenheiros cuja média etária anda pouco acima dos 30. Por isso, esta é uma ‘scrambler’ diferente. No estilo como na eficácia dinâmica.
Seguindo as linhas-mestras da filosofia ‘scrambler’, esta é uma proposta de acrescida polivalência rumo à aventura. Capaz de enfrentar, com o mesmo à vontade, as mais desafiantes jornadas urbanas, como as mais recurvadas estradas de montanha. Como, até, de fazer uma escapadinha para lá dos limites asfaltados. O estilo é (quase…) tudo, por isso não podiam faltar as rodas de maior diâmetro (19 polegadas na dianteira e 17” atrás) com pneus de tacos. Pena que sejam em alumínio fundido e não de raios, seguramente mais condizentes com o guiador alto e largo e o banco plano, rumo a uma condução com as costas direitas. Sem esquecer o escape, com cobertura em aço escovado e em posição elevada. Que, espante-se, tem uma proteção dupla que isola de verdade a temperatura do tubo de saída dos gases.
De jovens para jovens
Traços que caraterizam um segmento nascido na década de 1960, onde, desde logo, a Honda marcou presença numa classe dominada pelas marcas britânicas e italianas, criando ícones que marcaram uma geração. Meio século depois, pensando nos sonhos e necessidades dos motociclistas atuais, deu a chave do baú a uma equipa de jovens engenheiros e lançou-lhes o desafio. Não apenas criar uma ‘scrambler’ diferente mas com linhas que remetessem para a história da marca e que honrassem os valores da Honda. Além disso, o desafio foi ampliado com a base proposta. Afinal, desenvolver uma ‘scrambler’ a partir de uma ‘cruiser’ estava longe de ser o caminho mais fácil. Dessa forma, a jovem equipa de designers e engenheiros, leu o caderno de encargos e começou a desmontar a CMX500 Rebel para criar a Honda CL500.
Uma plataforma pouco convencional que exigiu algum corte e costura para chegar ao resultado desejado. Do quadro, por exemplo, foi aproveitada a parte envolvente do motor e somado um novo sub chassis, mais largo e resistente para aguentar passageiro e eventual carga, além das exigências próprias de uma utilização mais abrangente.
Cuidados de resistência e versatilidade que continuaram no amortecimento e na travagem, privilegiando o conforto, mas sem abdicar da eficácia. A forquilha Showa de 41 mm de diâmetro e 150 mm de curso, sem ajuste, e sobretudo os dois amortecedores traseiros, reguláveis em 5 posições pré-carga e com 145 mm de curso, garantem um muito apreciável bem-estar a bordo. Tanto mais que nota-se apenas um ligeiro molejar quando o ritmo aumenta bem para lá dos limites de uma utilização normal.
Segurança a todos os níveis
Altura em que a direção, com um ângulo mais fechado (27.º contra os 28º da Rebel), revela a necessária precisão e surpreendente leveza. Fácil de colocar em curva com a ajuda, também, de um guiador largo e alto, a Honda CL500 mostra, depois, grande precisão nas trajetórias e uma solidez pouco normal em motos desta classe. Aliás, o fluir fácil e o bom pisar são garantia de diversão, mesmo num ritmo que, à primeira vista, poucos esperariam. E que os pneus Dunlop Trailmax Mixtour aguentam sem sustos ou queixumes.
Mesmo quando algum imprevisto na estrada obriga a refrear de forma mais abrupta o ritmo divertido. Travagem de bom tato, com o disco dianteiro de 310 mm com pinça Nissin de dois pistões, muito fácil de controlar sobretudo na fase inicial. Mas com potência que, quando se trava de forma empenhada, é suficiente para evitar todas as situações mais complicadas. E com uma sensibilidade no disco traseiro de 240 mm que ajuda na melhor colocação em curva ou pequenas correções de linha.
Facilidade para todos
Uma facilidade de condução que garante boa adaptação aos menos experientes – o motor tem potência mesmo à medida da carta A2! – e que garante muita e fácil diversão para os mais rodados. Que poderão recordar o espírito ‘trail’ das décadas de 1970 a ’90, com uma facilidade capaz de arrancar sorrisos a cada quilómetro. E por muitos quilómetros de cada vez. Com efeito, a comprovar-se os consumos anunciados (3,6 L/100 km), cada depósito de gasolina permite ir do Porto a Lisboa sem paragens e sem que o calor do escape incomode as pernas do condutor ou passageiro graças à eficácia da dupla cobertura montada.
Igualmente à vontade em estrada como em cidade, a Honda CL500 responde de forma suave às maiores exigências dos pisos urbanos, com um início bastante suave para absorver as irregularidades dos paralelos ou mesmo as passadeiras sobrelevadas. Suspensão mole que favorece utilização citadina, onde a reduzida altura do banco ao solo ajudará nas paragens frequentes. Pena o posicionamento dos poisa-pés do condutor, precisamente na trajetória das canelas, ameaçando punir qualquer distração com um hematoma ou, pelo menos, uma esfoladela da perna, bem como a localização da ignição e da tranca de direção. Com efeito, localizados em lados opostos do quadro, obrigam a retirar a chave do canhão de ignição, à esquerda, em cada paragem, para bloquear a direção do lado direito.
Prós e contras de uma ‘urban scrambler’
Pormenores que não beliscam a elevada qualidade geral de construção e o nível de equipamento da Honda CL500, incluindo iluminação full LED, sistema de aviso de travagem de emergência ESS ligando os quatro piscas, mas sem o cancelamento automático dos indicadores de mudança de direção. As luzes dos piscas ou de máximos bem como os vários símbolos de aviso são bem visíveis num painel minimalista, em LCD negativo. Porém, a ótima legibilidade em condições ideais de iluminação é bastante prejudicada quando o sol incide diretamente.
Claro que, como em todas as motos, há sempre pontos mais ou menos positivos e com influência variável no momento da decisão. Por exemplo, para aqueles que não se intimidam pelos mais desafiantes caminhos de terra existe uma boa notícia. Dessa forma, a Honda CL500 é muito fácil de conduzir em pé, graças às linhas muito estreitas na ligação entre o banco e o depósito. Que, a pensar na saúde dos joelhos até tem umas proteções em borracha, reminiscência histórica da classe.
Além disso, os poisa-pés têm coberturas em borracha que, para lá de absorver as poucas vibrações que escapam do bem equilibrado motor, podem ser facilmente retiradas. Como resultado, dão lugar a apoios dentados que garantem melhor aderência em todo-o-terreno. Para quem quiser ser mais radical, então o melhor será optar pelos poisa-pés opcionais tipo rally, mais largos.
Quando a filosofia veste a roupa certa
Outra definição do conceito ‘scrambler’ passa pela adoção de escapes em posição elevada, que permitam a utilização em todo o tipo de caminhos. Por isso, a Honda CL500 tem ponteira de dupla saída bem alta, garantindo um estilo genuíno e uma acrescida proteção. Por outro lado, os coletores dirigem-se para a parte inferior do motor, reduzindo alguma altura livre ao solo. Ainda são 155 mm, apenas menos 35 mm que na CB500X! Claro que, primeiro, esta não é uma verdadeira ‘trail’ e, em segundo lugar haverá sempre proteções do cárter à medida dos desejos individuais de aventura.
Dado relevante no capítulo estético vai para a profusão de formas circulares, atirando uma vez mais para as décadas de 1960 e ’70. Assim, o farol dianteiro, piscas, retrovisores e até o painel de instrumentos são redondos. Ao contrário do farol traseiro, de forma elíptica, para uma maior visibilidade que não seja limitada pela posterior montagem de top-case.
Velho conhecido
O motor é o conhecido bloco bicilindro das CB(R) e da CMX500 Rebel, com 471 cc de capacidade, um pico de potência de 47 cv (34,3 kW) às 8500 rpm e um binário máximo de 43,4 Nm (6250 rpm). Unidade térmica que, para cumprir de forma exemplar as novas funções, recebeu modificações ao nível da admissão de ar, escape e injeção eletrónica. A admissão de ar é agora mais direta, com benefícios no binário disponibilizado desde baixas rotações. Mas também na forma como a potência é entregue nos regimes mais elevados, rumo a maior diversão. Exatamente o mesmo motivo que levou a criar uma transmissão final mais curta, com a dição de um dente na cremalheira (41 contra os 40 da Rebel).
Alterações que exponenciam o caráter divertido e voluntarioso deste motor, com acelerações mais vivas, desvalorizando o facto de não termos em mãos uma potência recordista. Mas que se mostrou suficiente nas ‘calles sevillanas’ como nas serras a norte de Sevilha. Sempre bem apoiada pelo binário entregue de forma linear desde baixas rotações. E com uma caixa bem escalonada e precisa, ajudada por uma embraiagem ultra suave é possível manter ritmos bem animados.
E sempre com uma sonoridade sóbria e muito agradável. Um pulsar rouco que vai modificando o timbre ao ritmo da rotação do acelerador, mas sem nunca incomodar o condutor ou os transeuntes. Tão pouco o passageiro, sentado de forma assimétrica devido ao posicionamento do escape e com as pernas bastante dobradas. Moto algo egoísta para o pendura que tem apenas uns unheiros debaixo do banco para se segurar, o que pode ser melhorado com a adoção do porta-bagagens opcional.
Facilidade para todos
A Honda CL500 revelou-se assim uma agradável surpresa, competente em todas as áreas e muito fácil de conduzir, fazendo jus aos valores inerentes à filosofia ‘scrambler’ como às necessidades de condutores jovens e porventura menos experientes. E, já se sabe, a facilidade quando existe é para todos, incluindo para aqueles, mais rodados, que procuram uma forma de mobilidade simples e descomprometida, mas com um estilo único que pode ser reforçado com a lista de acessórios. A saber, há opcionais estéticos (placas laterais e frontal, guarda-lamas elevado e autocolantes), de proteção (para punhos e depósito), de conforto (banco mais alto, manete de travão ajustável, punhos aquecidos, tomada 12V) ou de carga (top-case e saco lateral) que, para maior economia, podem ser agrupados em três packs: Adventure, Style e Travel.
Descomplicada e atraente, de condução intuitiva e prazenteira, confortável e com um piscar de olho à aventura, a Honda CL500 surpreendeu pelas capacidades dinâmicas, com um motor sempre disponível e sem vibrações incómodas. Mas brilhou ainda graças a uma travagem potente e bem doseável, bem como amortecimento bastante confortável e de eficácia suficiente para uma utilização versátil e abrangente.
Afinal, a indústria de duas rodas ainda é capaz de criar surpresas e esta é, claramente, uma das surpresas do ano. Talvez provavelmente maior até do que a Honda Transalp, pelo simples facto de ninguém esperar um comportamento destes. É que a Honda CL500 revelou-se uma agradável surpresa competente em todas as áreas, incluindo num estradão em terra batida, e muito fácil. Sempre muito fácil de conduzir.
Outra agradável surpresa nesta proposta disponibilizada azul Candy Caribbean Sea, laranja Candy Energy, preto metalizado Matte Gunpowder e verde metalizado Matte Laurel é o preço: 6850 €.