Há um maníaco à solta no Mundial de Superbike

Foi uma das contratações surpresa para a grelha das Superbike do próximo ano. O italiano é um dos pilotos que mais atenções concitou na sua passagem pelo ‘paddock’ de MotoGP. Até que uma (dura) pena, por alegado consumo de substâncias dopantes, o afastou das pistas por quatro anos.

O ‘Maníaco’ está de volta ao asfalto! Desta feita no Mundial de Superbike, com a Ducati Panigale V4R do Team GoEleven, até aqui utilizada por Philipp Öttl.

Terá a paragem prolongada afetado o talento do transalpino? Ou será que o ‘Maníaco’ terá uma palavra a dizer na hierarquia do campeonato?

  • Texto: Fernando Pedrinho
  • Fotos: WorldSBK, MotoGP
O regresso após quatro anos sabáticos, com a Panigale V4R da GoEleven.

Andrea estreou-se no Mundial de 125cc em 2005. A primeira vitória nessa categoria alcançou-a em 2008, quando venceu o Grande Prémio de Changai, sobre uma pista alagada. Alcançou outra três com a Aprilia da Ongetta, no ano seguinte.

Com a Aprilia RS125 do IC Team venceu pela primeira vez em Changai, em 2008 (foto MotoGP)

O seu explosivo feitio veio ao de cima ainda nas quarto-de-litro, quando deu uma cabeçada a Pol Espargaró, ainda na gravilha, na prova caseira de Misano, depois de ter provocado a queda do catalão.

A passagem para a Moto2 deu-se em 2010, pela mão da SpeedUp. Subiu ao lugar mais alto do pódio por três vezes no ano de estreia. Iannone manteve-se entre os protótipos de 600cc até ao final de 2012.

Com a SpeedUP S12 de Moto2, da Speed Master (foto Reuters)

Em 2013 a Pramac fê-lo ascender à categoria rainha e dois anos depois ascendeu à equipa oficial da Ducati, substituindo Cal Crutchlow ao lado do seu homónimo Dovizioso. A sua agressividade ficou bem evidenciada quando atirou o seu colega de equipa ao chão na Argentina, em 2016, na última curva. Ou quando fez o mesmo a Jorge Lorenzo, em Barcelona.

A queda na última curva no GP da Argentina, em 2015, com o colega de equipa, Andrea Dovizioso (foto MotoGP).

O seu momento de glória foi atingido no GP da Áustria de 2016, quando obteve a sua única vitória em MotoGP, triunfo que representou o final do jejum de seis anos da marca italiana, que não vencia uma prova desde os tempos de Casy Stoner.

A fratura de uma vértebra, em Misano, ditou o declínio de Iannone, que ainda passou pela Suzuki Ecstar e Gresini Aprilia.

O único triunfo alcançado em MotoGP, na Áustria, em 2016 (foto MotoGP).

O regresso à competição, quatro anos depois

Ao mais alto nível, uma sabática de quatro anos é algo sem precedente. Iannone ainda teve algumas saídas em pista, em ‘track-days’, mas até que ponto esta falta de ritmo de competição, por tanto tempo, é recuperável?

Fora das pistas, ainda se tornou empresário de sucesso na restauração, com a abertura do Passion Café, na cidade suíça de Lugano (foto MotoGP).

O Andrea Iannone que encontrei em Jerez de la Frontera surgiu bastante calmo e supreendentemente humilde. A paragem trouxe-lhe uma tranquilidade aparente. Possivelmente fruto de um período de maturação e reflexão que foi tudo menos curto. “Tenho os pés bem assentes na terra”, disse com um suspiro no final do segundo dia de treinos de pré-temporada em Jerez de la Frontera. “Não podemos pensar que é chegar aqui e já está. Tenho de estar tranquilo e manter a cabeça entre os ombros”, rematou. Isso não lhe retirou a necessária clarividência pois “o passo de partida é positivo”, reconhecendo que o quinto tempo mais rápido no final dos dois dias foi surpreendente e a prova de que o talento de Andrea permanece intacto.

Em Jerez de la Frontera, já com as cores da GoEleven

Agradecido à Ducati

O piloto de Vasto reconheceu que não esperava andar tão rápido e de forma consistente após tanto tempo de paragem. “Qualquer piloto quer estar no topo, mas isso não é fácil. Há um processo de adaptação necessário à moto, aos pneus e à equipa. Quando te surgem momentos como estes na vida há que aproveitá-los ao máximo. Se vires bem, há quase cinco anos que não tenho uma oportunidade a este nível. Porém, é uma moto que não conhecia, pneus que nunca havia experimentado, os travões, a equipa, todo um mundo de novidade. Há tanto por fazer…”

O novo recruta da equipa liderada por Dennis Sachetti era tudo menos ingrato pela oportunidade. “Tenho de agradecer ao Gigi [Dall’Igna, diretor geral da Ducati Corse], Paulo Ciabatti [diretor desportivo da Ducati Corse], [Claudio] Domenicali [Dall’Igna, diretor executivo da Ducati Corse], e toda a equipa da Ducati Corse porque se posso voltar a sonhar devo-o a eles”.

Puxado para o físico

Qualquer recomeço a um nível tão elevado revela sempre dificuldades e, pelo contrário, pontos que correm melhor que o esperado. “Em primeiro lugar, alguma dificuldade física porque há músculos que apenas utilizas quando pilotas uma moto de competição”, começou por elencar. “Fui dos que mais andei na pista nestes dois dias [mais de 70 voltas] e senti-o nos braços com ‘arm pump’, [síndrome compartimental] que me retiravam força nas travagens e na aceleração. Tudo isto influiu no nível de prestações”.

A atenção de Borgo Panigale

O quartel-general da Ducati acompanhou com natural curiosidade o regresso deste protegido da casa bolonhesa. “Ontem falei com o Gigi. Fui piloto Ducati tantos anos, tenho um relacionamento com o Claudio [Domenicali], que me mandou várias mensagens, com o Paolo [Ciabatti] que são pessoas que sempre trago no coração”, referiu. “Estar aqui enche-me de alegria, pelo que tenho de agradecer a todos o que contribuiram para este regresso, assim como ao Team GoEleven”.

Pirelli intuitivos

Os pneus Pirelli são reconhecidos pelas suas carcaças e compostos bem mais macios que os seus homólogos franceses utilizados no MotoGP. Isto faz com que a transição da categoria de protótipos para a de motos derivadas de série tenha nos pneus transalpinos um fator crucial que há que entender e assimilar para rolar entre os mais rápidos. “A Pirelli tem feito trabalho importante e este ano foi mesmo incrível”, reconheceu. “As borrachas comportam-se muito bem e os pneus são muito intuítivos. Ainda devo entender como se faz a gestão dos pneus em corrida, mas com o tempo que tive de teste e após tanto tempo sem pilotar, é difícil conseguir tudo isso em dois dias. Além disso, a meteorologia não ajudou muito a causa. Regresso a casa com muita informação para analisar e ver os pontos que devo melhorar”.

O novo recruta do Team GoEleven reconheceu as expetativas que sobre ele recaem num dos regressos mais espetaculares dos últimos anos neste nível de competição. “Isso dá-me muito prazer. Perceber todo o interesse que este retorno gerou. São belas expetativas, por um lado, mas do outro uma enorme responsabilidade. É bom voltar a sentir todo este calor e proximidade, pelo que espero retribuir com algo de muito bonito e poder trazer mais interesse para este campeonato”.

Sem termos de comparação

Danilo Petrucci é um dos pilotos que veio do MotoGP para as Superbike (tal como Remy Gardner, ou Iker Lecuona) e que diz ser um campeonato subavaliado em termos de dificuldade. “Ainda não te posso dizer o grau de dificuldade que coloca, porque apenas dei 20 voltas e numa situação crítica”, dizia no final do primeiro dia, onde somou os primeiros giros com uma moto do Mundial de Superbike, numa pista repleta de humidade. “Só o simples fato de voltar a pilotar uma moto só por sí já é dificil. Aliás, qualquer tipo de competição em duas rodas é bastante exigente. Até um certo ponto é divertido, mas quando vais em busca de resultados torna-se mais complicado e requer muito trabalho. Não devemos ter expetativas nem sofrer por antecipação, mas antes permanecer tranquilos”.

“Just have fun!”

A Panigale V4R parece ter encaixado bem no estilo de pilotagem do ‘Maníaco’. “A Ducati fez um belo trabalho. No primeiro contato é uma bela moto. Há muito que não andava numa moto de corrida e sei que o limite ainda está distante, o que é bom”.

Depois de Jerez, Andrea andou esta semana com uma Panigale V4S no Barcelona Catalunha, durante um par de dias, pois necessita (e muito) de acumular quilómetros em ritmo de corrida. E o que lhe passou pela cabeça quando percorreu, de novo, os primeiros metros do ‘pit lane’, ao fim de quatro anos? “Nada de especial… ‘just have fun’!”

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