GÓIS. Meu querido mês de agosto

A festa das motos que ultrapassou a pandemia

  • Texto: Paulo Ribeiro
  • Fotos: João da Franca/GMC

A pandemia voltou a impedir a realização da tradicional Concentração de Góis! Mas não impediu a simpática vila beirã de acolher a festa das motos nas margens do Ceira, com as mais diversas atividades ao longo de todo o mês de agosto. É que as motos são muito mais que simplesmente duas rodas! São engrenagens de amizade, camaradagem, diversão, conhecimento e aprendizagem. São uma forma única de estar na vida!

Criatividade e imaginação. Ousadia e determinação. Trabalho e apoios. De tudo foi preciso reunir para ultrapassar os efeitos de uma doença que teima em tolher movimentos e afetar… o cérebro! Maleita que gerou receios, criou distanciamentos, corroeu almas e corações. E que obrigou a um ‘novo normal’. Que ninguém quer, é verdade, mas com que todos vamos convivendo porque a isso somos obrigados.

O motociclismo, atividade que, mais que qualquer outra, é puro movimento, é deslocação, é velocidade e paixão, foi extremamente afetada. O Moto Clube de Faro, por exemplo, viu-se, por dois anos consecutivos, privado de uma concentração que já não era apenas sua. Antes uma verdadeira ‘instituição’ universal! E muitas outras, todas, as concentrações foram canceladas, adiadas ou rotuladas com qualquer outra designação eufemística que queiram dar-lhe.

Os campeonatos nacionais das mais diversas modalidades, do motocrosse à velocidade, do trial ao supermoto, foram fortemente afetados, com cancelamento de provas, com desaparecimento de patrocínios, com o adeus prematuro de muitos pilotos. Mas não se pense que algum motociclista virou costas às dificuldades! Nem poderia. Não faz parte do nosso léxico, da nossa forma de ser, de estar, de viver, irreverente e ousada.

Claro que os motociclistas, os clubes e a própria federação tiveram de reinventar-se. Corridas à porta fechada e com testes que comprovam a ausência do SARS-CoV2, limitações diversas de espaço, reordenamento de calendários e ajustes temporais foram norma durante estes dois anos. Há toda uma vida, sobre rodas, para repensar. Mais do que duvidar que voltaremos a ter dias felizes, de reencontro e comunhão de ideias e ideais, há que ter imaginação, ousar a diferença, recriar conceitos. O Góis Moto Clube confirmou que mais do que existir futuro – desse, acredito, nunca ninguém duvidou! – é possível valorizá-lo e torná-lo ainda mais apetecível.

Góis Moto Village – Uma vila de paixão

Como a necessidade aguça o engenho e as mais irrequietas mentes não param de pensar, a forma de ultrapassar as limitações impostas surgiu sob a forma de um conceito inovador em termos nacionais. “A ideia do Góis Moto Village surgiu por força das condicionantes atuais, é certo, mas a verdade é que foi o concretizar de uma ideia que o Góis Moto Clube vinha pensando há bastante tempo, já desde a anterior direção”.

Para o atual presidente do clube beirão, Nuno Bandeira, acabou por ser uma evolução natural, porque, “quem conhece a Concentração de Góis, sabe que existem e sempre existiram dois momentos e espaços diferentes e complementares no evento. Por um lado, se, à noite, as pessoas se concentram no recinto para assistir aos vários concertos ou para dormir, durante o dia espalham-se pela vila ou pelas margens do Ceira. Por isso, e desde há bastante tempo, existia a vontade de levar as motos para a vila, de ali criar atividades. Agora juntou-se a necessidade de tornear as restrições de atividades públicas com a vontade e possibilidade de estender a animação até ao centro da vila”.

Ações que normalmente não acontecem numa concentração, ou que, pelo menos, não aconteciam até aqui, e que assentam na promoção da cultura motociclística. Sessões de cinema, com a parceria do Lisbon Motorcycle Film Fest, repartidas entre o auditório da Associação Cultural e Recreativa de Goes (Casa da Cultura) e o recinto da concentração onde as películas da noite ganham projeção de redobrado interesse, bem como as agradáveis conversas, workshops e debates sobre variados assuntos e diversas pessoas ligados às motos.

Traços de memória em papel fotográfico

Lugar também a exposições de fotografias que podem ser apreciadas até final do mês de agosto, desde a mostra patente nas paredes da sede do GMC, em memória evocativa das 27 edições da Concentração de Góis, até ao Ponto de Fuga instalado na Casa da Cultura goiense. Visão muito particular do motociclismo nacional em toda a sua diversidade, através da lente de Tiago Miranda e da pena de Ricardo Marques, que surgem como documento ímpar onde todos os amantes das duas rodas acabarão por descobrir um espelho, uma identidade comum.

Nuno Bandeira reconhece que “há muito que Góis sentia estar preparada para acolher um evento deste tipo”, incluindo ainda ações de formação de condução defensiva, ministradas pela ACM, exposições de motos customizadas, passeios e uma “feira que foi limitada a 25 expositores, em vez dos normais 150 por uma questão de imposição de regras de distanciamento social”. Uma festa sobre rodas que o presidente do Góis Moto Clube prevê “continuar quando voltar a Concentração, nos moldes tradicionais, esperemos que já em 2022”, com uma ligação que passará pelo “fio condutor que são as motos numa vila que sempre acarinhou e abraçou o regresso dos motociclistas aos seus domínios”.

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