De norte a Sul de Portugal por estradas Nacionais

Texto: Jorge Casais

Pois é, a saga das estradas nacionais voltou a ser activada. Já fazia algum tempo que não me dedicava a este “projecto”. Desta vez fui para Sul dado que para Norte estão todas percorridas.

Então lá vão as minhas opiniões sobre estas estradas.

EN236 Foz do Arouce a Derreada (~55 km)

Que maravilha que é percorrer esta EN236 a partir da Lousã. A partir daqui entramos na serra e num rodopio de curvas com uma paisagem fenomenal sempre a “perseguir-nos”.

Recomendo, para quem nunca visitou, uma visita ao Castelo da Lousã (também designado por Castelo de Arouce). É uma pequena fortificação, situada num local idílico, que consegue transportar a nossa imaginação para a importância do mesmo, dada a sua localização estratégica, nos tempos em que nos víamos obrigados a defender das incursões de “Nuestros Hermanos” sobre o nosso território. Como digo, recomendo a visita, até porque depois aproveitam para percorrer esta lindíssima estrada. Ao longo de todo o percurso os spots são muitos mas tinha pela frente muitos km pelo que optei por me ficar pelas filmagens em andamento e apenas parar em três pontos…mas deixei marcados muitos outros para quando aqui passar de novo.

Ao percorrermos esta estrada temos várias indicações para as aldeias do Xisto desta serra. Talasnal, Chiqueiro, Casal Novo, etc… mas passamos mesmo em Candal e pela sua cascata.

A estrada que se seguia a esta “curvilínea” EN236 ficava apenas a alguns km de distância da outra que iria percorrer e, entre ambas apanhei um troço da EN2 (que foi minha companheira mais algumas vezes em vários pontos mais adiante) e um troço da EN344 onde temos alguns spots a pedir a nossa paragem. Um bom exemplo disso mesmo os vários pontos em que avistámos lá em baixo o Zêzere a serpentear por entre os montes.

EN351 Álvaro a Envendos (~73km)

Muito embora esta estrada designe Álvaro como seu início, a mesma realmente inicia-se numa localidade que se situa uns km antes e que dá pelo nome Maria Gomes.

Ao passarmos cá em cima por Álvaro não ficamos indiferentes e somos mesmo forçados a parar. Esta aldeia possui uma implantação curiosa, pois aproveitou o relevo do monte para instalar o seu casario. Para além disso e olhando mais para a direita vemos uma das muitas curvas do rio Zêzere a 90º. Sublime.

A paisagem mudou entretanto. Menos verdejante que a percorrida pela EN236. Ou melhor, a EN351 não tem o “arvoredo” tão junto à estrada dando impressão falsa que é menos verdejante. Passamos por Oleiros, Isna, Sobreira Formosa onde perdemos a mesma e somos forçados e entrar na EN233 e IC8, para a voltarmos a encontrá-la de novo um pouco antes de Esteves sobre a nossa direita (no sentido que levava, é claro).

Depois de Oleiros também temos muitas curvas mas estas são mais largas. Recomendo apenas que não se deixem levar pela emoção porque em algumas delas aparecem pedras e areia que podem significar um dia estragado desnecessariamente. Chegado a Envendos, e com o calor a apertar, parei para refrescar, comer alguma coisa, fumar uma cigarrada e retirar algum do equipamento que trazia vestido para modo CALOR.

A estrada que seguia ainda ficava a um bom par de km de Envendos, pelo que quando planeei este passeio elegi a IP2 para me levar rapidamente até Alpalhão.

EN246 Alpalhão a Elvas (~84 km)

Entro definitivamente em território alentejano, mais concretamente do Alto Alentejo, com a sua paisagem muito característica a encher o meu olhar. Começo a avistar a Serra de São Mamede e em alguns pontos até conseguimos ver o imponente Marvão e o seu castelo bem lá em cima. Recomendável sem dúvida, para quem faz esta estrada em modo passeio, uma visita a Castelo de Vide, Marvão, Portalegre, Alegrete, Arronches e, finalmente, Elvas.

Como é óbvio, para quem for percorrer esta estrada no tal modo passeio, pode, saindo por apenas alguns km da mesma, visitar outras localidades top. Crato (a Pousada é um must), Alter do Chão (a Coudelaria), Arronches (vila muito arranjada e bem bonita), Estremoz (cidade muralhada), Campo Maior (Terra do café e não só)… Como digo, são saídas do eixo EN246 mas que valem a pena.

Sobre a estrada em si mesmo apenas retenho que é daquelas rolantes onde ligamos o “cruise control” e vamos evoluindo calma e serenamente estrada abaixo, com uma paisagem muito menos verdejante e mais dourada. Estamos já em cima do Verão pelo que é natural que assim o seja.

Entretanto a EN4 levou-me ao próximo destino que era já ali. Refiro-me a Vila Viçosa e ao seu magnífico Paço Ducal. Até aqui tudo perfeito, EN236, EN351 e EN246, embora muito distintas entre elas, a levarem-me a passar bons momentos com a minha inseparável e fiável ST. Muito sofre este maquinão. Quantos mais km faço a conduzir esta moto mais sinto que o José Pedro Carvalho tinha toda a razão quando, faz agora cerca de 3 anos e meio, me disse como amigo e não como Concessionário Yamaha, que iria ter uma mota para comer estrada e não ter problemas. É mesmo isso.

EN254 Vila Viçosa a Viana do Alentejo (~85 km)

Continuo a penetrar na região Alentejana mas agora mais para o seu miolo. Mais uma estrada rolante com uma paisagem dourada a “perseguir-me”. Esta EN254 leva-nos por Redondo e a imponente Évora.

Muitas rectas a exigir controlo no punho direito pelo que o melhor é mesmo meter de novo o “cruise control” em funcionamento.

EN383 Torrão a Aljustrel (~80 km)

Continuo a rolar pelo centro Alentejano com muito calor e com a paisagem dourada a continuar a seguir-me. Muito embora a ideia fosse ligar estas duas localidades passando por Santa Margarida do Sado e Canhestros a realidade é que tal nunca foi efectuado. Para ligar estes dois pontos voltamos de novo a pisar a EN2 e, chegando a Ferreira do Alentejo viramos para Figueira dos Cavaleiros. Aqui uma peripécia. Nunca ando de moto sem estar com equipamento apropriado, por muito calor que faça. Acontece que ao acabar de entrar na IP8 um bicho, que mais tarde percebi que era bem grandinho e vermelho, conseguiu entrar pela manga do casaco que estava apertada e mandou-me cá uma ferradela que até vi estrelas. Lá parei a moto, sabe-se lá como, mesmo em frente à estátua que existe à entrada de Figueira dos Cavaleiros, o fecho do casaco encravou e tirei o mesmo na base do arrancar. Quando virei a manga do casaco sai de lá de dentro o criminoso, o tal “Pterodáctilo” vermelho. Como é óbvio o desgraçado não vai morder mais nenhum motociclista, pois sentiu o peso da minha bota Forma em cima dele.

Estrada sem nada digno de registo e não fosse aquela peripécia era mesmo sem interesse nenhum. O ponto seguinte estava marcado para Serpa. Talvez efeitos secundários da ferradela do “Pterodáctilo” vermelho, o que é certo é que me enganei e ao invés de ir para Baleizão, após Beja, pela EN260 para apanhar a EN391 no seu início, saí pela EM511 o que me obrigou a fazer uma ida pela vinda.

EN391 Serpa a Castro Verde (~48 km)

Já estou no Baixo Alentejo, debaixo de um calor abrasador, mas continuo com um sorriso nos lábios pois estou com a minha ST a rolar em Portugal. Nada a assinalar para além do facto de ser muito difícil de apanhar realmente esta estrada pois ela corre ao lado da IP2 e é difícil de encontrar o ponto onde possamos entrar na EN391.

Os percursos planeados para este primeiro dia estavam realizados e era altura de começar a pensar num local para dormir. Como iria arrancar a partir de Mértola a escolha foi arranjar qualquer coisa ali por perto. Não foi fácil pois a oferta hoteleira não é muita e o fim de semana é prolongado. Acabei por ir parar ao Palacete dos Alcaides nas Minas de São Domingos. Confesso que não faz minimamente o meu estilo de hotel. Mesmo nada. Mas lá teve que ser. No entanto deixo aqui a dica para aqueles que andam, por exemplo a percorrer o ACT, que possuem aqui um local para dormir relativamente barato. O dono é extraordinariamente simpático e prestável. Nada a apontar quanto a isso.

Entretanto a ida até Mértola foi percorrida pelas excelentes estradas EN123, EN122 e depois, até ao “refúgio” onde pernoitei, pela EN265.

  • 1ª Etapa
  • EN236 Foz do Arouce a Derreada
  • EN351 Álvaro a Envendos
  • EN246 Alpalhão a Elvas
  • EN254 Vila Viçosa a Viana do Alentejo
  • EN383 Torrão a Aljustrel
  • EN391 Serpa a Castro Verde

Percorridos – 820 km Percurso seleccionado – 670 km Horas efectivas de condução – 10H14m

Total de horas em passeio – 12H59m Altitude máxima – 989 m Moto – Yamaha Super Ténéré

Vídeo

Wikilok

https://pt.wikiloc.com/trilhas-motociclismo/11-06-2021-por-estradas-nacionais-75558511

EN267 Mértola a Aljezur (~140 km)

Já percorri esta estrada por várias vezes mas nunca a tinha feito desde o seu início até ao seu final. O dia começou bem encoberto lá para os lados da Minas de São Domingos e foi-me acompanhando por alguns km.

O início desta EN267 dá-se numa das mais bonitas, e calorentas, vilas de Portugal. O seu castelo, as muralhas e o casario branco plantados num penhasco com o Guadiana a passar lá em baixo, parecem saídos de um qualquer livro de contos Sarracenos. Verdade seja dita, Mértola possui inúmeros vestígios de ocupação Romana mas não lhe faltam também os vestígios da ocupação sarracena desta vila. Chegou mesmo a ser um capital de uma emirado chamando-se na altura Mártula.

Como no Palacete dos Alcaides me pareceu que não serviam pequeno almoço, na hora que queria sair, aproveitei a paragem em Mértola para umas fotos e para tomar o pequeno almoço.

Borracha no alcatrão e aqui vamos nós rumo a Aljustrel. Que estrada fantástica, não só pela estrada em si mesmo mas também pelo que nos entra pelos olhos dentro em termos de paisagem.

De Mértola até chegarmos a Almodôvar rolamos efectivamente na EN267, no entanto esta é uma daquelas situações que a estrada desaparece e temos que seguir pela EN393 e depois seguir na IC1. Uns km mais à frente encontramos a indicação à direita de S. Marcos da Serra e cortamos por aí. Voltamos a encontrar a EN267 e entramos na serra de Monchique. Se até chegar à IC1 as longas rectas, com algumas curvas aqui e acolá, foram a minha companhia, a partir da entrada no troço serrano as curvas, as subidas e descidas tomam contam do meu passeio… claro que a par de uma paisagem que, onde não tem eucaliptos e não está ardida, é fabulosa.

Ao passar em S. Marcos da Serra fui-me relembrando dos bons momentos que passei com o Rad Raven e com as nossas Honda CRF 250 Rally a percorrer os inúmeros estradões que por aqui existem. Entretanto telefonei ao amigo Rad e, desta vez, passei perto de casa dele e fui mesmo dar duas de letra durante uma horita. Ah, já me esquecia de referir que o Alentejo ficava para trás e entrava no Algarve, mais concretamente em direcção ao barlavento algarvio e à sua costa Vicentina. A estrada que se seguia levou-me até um dos “meus” lugares mágicos – Cabo S. Vicente.

EN268 Alfambra a Cabo de S. Vicente (~43 km)

Já rolei inúmeras vezes por esta estrada e não me canso de lá voltar. É muito simpática mas a exigir respeito pois é muito irregular. A paisagem típica desta área revela bem a exigência de estar perto de um ambiente marítimo sempre “bafejado” por fortes ventos. A temperatura desceu consideravelmente face ao que tinha sentido durante o dia de ontem e hoje até metade da serra de Monchique. Confesso que até se torna mais agradável andar de moto.

Ao longo desta EN268 temos vários pontos a visitar, desde praias (Arrifana, Pedra da Agulha, Vale Figueiras, Bordeira, Zimbreirinha, Cordoama, etc…), miradouros (Carrapateira, Sagres, Fortaleza de Beliche, Cabo S. Vicente, etc…), monumentos (em Vila do Bispo, Fortaleza de Sagres, Forte de Beliche, etc… É uma estrada curta mas onde podemos investir algum do nosso tempo a percorrer ao seu redor imensos locais. Já o fiz no passado e passei aqui um dia inteiro a explorar a zona. É mesmo top percorrer aquelas estradas e estradões e fazer da EN268 a espinha dorsal do passeio. Para chegar ao próximo destino, Silves, planeei atalhar pela A22 e sair na porta de Lagoa.

EN269 Silves a Ferreiras (~23 km)

Se Mértola é uma Vila encantadora, Silves é uma cidade que não lhe fica nada atrás. Ambas, como já o referi atrás, a parecer que saíram de um livro de contos Sarracenos. As muralhas e a imponente igreja matriz lá no alto, com o casario branco encosta abaixo até encontrar o rio Arade, pedem mesmo uma foto. Não o fiz desta vez, pois tinha muitos km para percorrer pela frente … ainda tinha de regressar a casa e ainda me faltavam algumas estradas. Esta é daquelas estradas que posso dizer que já a percorri mas não consigo acrescentar mais nada para além do facto de Silves ser o seu único ponto alto e a merecer destaque.

EN396 Quarteira a Barranco Velho (~27 km)

Não fazia a mínima ideia do que me esperava, mas julgar a pelo que tinha acabado de percorrer pensei que iria ser mais do mesmo. E assim foi até passar Loulé. Depois, bem depois, foi simplesmente divinal até ao final. Uma estrada com uma paisagem lindíssima, com o alcatrão irrepreensível, cheia de curvas umas a subir outras descer. Sim, brutal mesmo. Fiquei de tal forma tomado pela condução que acabei por não parar nos inúmeros spots que fui passando. Confesso que pela primeira vez neste passeio de dois dias mudei o “chip” e entrei em modo S. Aquilo é que foi raspadela. Tenho que lá voltar mas para curtir mesmo a estrada e a sua envolvente e não apenas a estrada Vs mota.

Para atingir o próximo destino, Cachopo, planeei a chegada ao mesmo pela N124 que é uma estrada divinal e que já a percorri mais ou menos faz agora 1 ano. O troço que percorri foram cerca de 30 km, mas também eles uns bons 30 km. Já tinha retirado o “Chip” do modo S pelo que pude mais uma vez saborear esta EN124 como deve ser feita. Com calma.

Acabadas de percorrer duas estradas lindíssimas, pensava eu o que seria que viria a seguir.

EN397 Chachopo a Tavira (~40km)

Quando planeava esta estrada no base camp apercebi-me que já andei por aqui quando fiz com o João Araújo o ACT, mas em modo off road. Recordo-me que na altura fiquei com a boa memória da paisagem bem Algarvia mas bonita. Pelo menos tinha essa certeza que poderia ficar certo da paisagem. Não esperava era que o carrossel fosse tão fantástico em termos de condução. Muita curva, subidas e descidas, aldeias, miradouros, etc. Estrada soberba. A repetir.

Existe uma ideia de que estradas bonitas só mais para norte. Na minha opinião, mais uma vez partilho que não pode haver ideia mais errada. Exemplos disso mesmo são estas duas que tinha acabado de percorrer… mas existem muitas outras mais. Para além disso, para quem gosta de andar a raspar patins são muitas as estradas aqui para baixo onde nos podemos deliciar com este musical metal vs alcatrão. O dia estava quase a terminar mas ainda tinha muitos km pela frente pelo que a decisão foi mais uma vez planear a A22 para me levar até Vila Real de Santo António.

EN122 Vila Real de Santo António a Beja (~112km)

Não percorri mesmo toda a estrada pois logo a seguir à saída da AE estava uma fila de carros descomunal. Não passei pelo linda Vila de Castro Marim e o seu castelo… mas teve que ser. Até sermos obrigados a entrar na IC 27 esta estrada é fenomenal. Muita curva, muito sobe e desce, aldeias ao longe, aldeias que atravessamos, paisagem Algarvia muito própria mas não deixando de ser agradável ao nosso olhar. Como a percorri já depois das 16h30 o sol a brilhar sobre todos aqueles barrancos tornavam a paisagem mesmo idílica.

Odeleite é uma Vila Algarvia que merece a visita. Já o fiz em tempos pelo que recomendo. Não será apenas a vila em si mesma mas toda a sua envolvente.

Passando Balurcos atravessamos o rio Vascão que desta vez tinha água a correr. Faço esta observação porque nos anos anteriores passei por aqui e o que havia eram pedras e um fio de água a correr. Este rio nasce na espectacular serra do Caldeirão (ui tanta curva da boa) e vem desaguar no Guadiana. Mas dois dias bem passados na companhia da brutal ST… mas resta referir o temporal que caiu sobre o meu regresso.

Depois de ter começado a subir a Serra dos Candeeiros e até casa foi chuva, foram relâmpagos e trovões, foram automobilistas perfeitamente imbecis a conduzir de forma tresloucada. Uns como se estivessem num “track day” e outros verdadeiras lesmas que ora viravam para a esquerda ora viravam para a direita como que a fugir dos relâmpagos. Foi uma experiência e tantos.

  • 2ª Etapa
  • EN267 Mértola a Aljezur
  • EN268 Alfambra a Cabo de S. Vicente
  • EN269 Silves a Ferreiras
  • EN396 Quarteira a Barranco Velho
  • EN397 Chachopo a Tavira
  • EN122 Vila Real de Santo António a Beja

Percorridos – 1050 km. Percurso seleccionado – 600 km. Horas efectivas de condução – 12H15m

Total de horas em passeio – 15H35m. Altitude máxima – 535 m Moto – Yamaha Super Ténéré

Vídeo

Wikilok

https://pt.wikiloc.com/trilhas-motociclismo/12-06-2021-por-estradas-nacionais-75691439

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