A CFMOTO 450MT promete mundos e fundos! Vista no papel tem tudo do bom e do melhor e, no terreno, esta verdadeira trail não só confirmou elevado patamar qualitativo como superou as expetativas. Além de exibir um preço ultracompetitivo. Não só por ser um valor acessível, mas sobretudo porque é perfeitamente justificado por tudo o que oferece esta chinesa de alma e coração. Excelente ‘value for money’ como diriam os anglófonos. Um negócio do caraças, dizemos nós. Conheçam a futura rainha do segmento aventureiro de média cilindrada!
- Texto: Paulo Ribeiro
- Fotos: Rui Jorge/CFPT
Uma das motos que mais expetativas vem gerando para 2024, a CFMOTO 450MT, revelou-se ao mercado nacional no dia de abertura da Expomoto. Uma escolha a que não foi alheia a data. Afinal, o dia 25 de abril marca, de forma indelével, a história da democracia em Portugal. A liberdade intrinsecamente ligada a esse momento foi (bem) aproveitada pela CFPT, importador nacional da marca, numa associação aos valores de independência e autonomia. A que agregou valores de polivalência e diversão, sentido prático e economia.
O que, sublinhe-se, num mercado cada vez mais voltado para as longas viagens nos mais inóspitos ambientes (pelo menos nos sonhos e na imagem…) é trunfo de enorme relevância. Por isso a CFMOTO 450MT brilha, desde logo, por estética que remete para uma utilização nos mais diversos ambientes. E piscando o olho aos devaneios dakarianos! É desportiva e aguerrida, mas sem cair em exageros de depósitos mastodônticos. E é elegante, com a roda dianteira de 21 polegadas e suspensões de curso avantajado, sem ter uma altura inacessível.
Aventura para todos
Na hora de titular este primeiro contacto com a CFMOTO 450MT surgiu a ideia de acentuar a ideia de aventura universal. Que é, afinal, aquilo que este modelo propõe. Uma máquina para todo o tipo de peripécias, das ousadas travessias das grandes cidades em hora de ponta às serenas jornadas através dos mais exigentes estradões da Serra da Estrela. Ou de Marrocos… Senão, vejamos!
Tem uma capacidade para todo-o-terreno, sublinhada pelas suspensões KYB ajustáveis, com 200 mm de curso, e pelos 220 mm de distância livre ao solo, mas tem, também, uma altura do assento que serve para todos em ambiente urbano. São 820 mm desde o banco, confortável e com uma capa de boa aderência, até ao solo. Que, graças à forma do enchimento e do desenho do depósito, facilita as paragens, garantido importante acréscimo de confiança. Uma altura que pode reduzir para 800 mm, com a mudança do parafuso de fixação do sistema de bielas do amortecedor traseiro. Tarefa simples, possível de ser executada em casa, exigindo apenas um suporte central para elevar a roda traseira, e que em nada altera a geometria da moto. Assento que, para os mais altos adeptos do TT, pode ser trocado por um opcional que eleva a altura para os 870 mm.
Para estes está também disponível a versão de guarda lamas elevado, nas duas decorações propostas, em azul ou cinzento. O preço é idêntico e há sempre a possibilidade de adquirir o outro guarda lamas ficando com duas motos pelo preço de uma.
Detalhes de luxo
Já que por aqui andamos, elogiar uma posição de condução bastante intuitiva e fácil, tanto em estrada como fora dela. O guiador parece colocado demasiado baixo, mas a verdade é que está no meio termo para uma utilização dual. Além de que pode ser ajustado em altura, cumprindo requisitos mais enduristas, ainda que o facto de não ser serrilhado possa levar o guiador a rodar em pancadas mais violentas.
As pernas não ficam muito dobradas, pelo menos para quem tenha altura até ao metro e 80, e a colocação dos poisa pés, além de confortável para os joelhos, ajuda na elevação para a condução em pé. Altura em que se agradece a possibilidade de retirar as borrachas dos apoios, tirando partido dos dentes para máxima fixação das botas. Voltando à estrada, é fácil recolocar estas borrachas, recuperando conforto graças à maior absorção das poucas vibrações que escapam até aos pés.
Seguindo a mesma linha filosófica que privilegia a aventura e o sentido prático, de sublinhar a existência de retrovisores rebatíveis. Que, para além de cumprirem com eficácia a função de mostrar o que se passa nas nossas costas, reduzem a largura da frente limitando potenciais estragos em off-road. Ambiente em que agradecemos um detalhe que mostra a muitas marcas europeias e japonesas o que deve ser feito para segurança e conforto do condutor. As manetes, ajustáveis na distância aos punhos, são fabricadas numa liga de alumínio muito resistente e com um acabamento ligeiramente rugoso. Garantindo assim melhor aderência das luvas, mesmo em situações de chuva ou lama. E que, já agora, são defendidas com resistentes protetores de mãos montados de série.
Simplicidade e leveza
Ainda no posto de comando da CFMOTO 450MT, nota para a existência de duas portas USB (tipo A e C) e de um para-brisas facilmente ajustável até 5 cm de altura. Pode ser regulado, dos dois lados e com apenas uma mão, mesmo em andamento, oferecendo boa proteção aerodinâmica sem interferir na condução em TT.
Pensada para agradar a gregos e troianos – que é como quem diz a aventureiros e urbanos! – a CFMOTO 450MT mostrou muito do que é capaz ao longo de um percurso muito variado. Um trajeto com mais de 200 quilómetros, delineado por terras beirãs, entre o belíssimo espaço do Moinho do Maneio, em Penamacor, e a Serra da Estrela. Estradas mais ou menos rápidas, mas sempre com muitas curvas e caminhos de terra para todos os gostos, deram para perceber o funcionamento e eficácia de todos os parâmetros desta moto.
Comecemos pela ciclística, assente num quadro tipo berço em tubos de aço, em que surge acoplada uma parte inferior para albergar o motor. Simplicidade e leveza são linhas fundamentais que prosseguem na seção traseira, com sub quadro tubular bem à vista a fazer recordar a estética da Aprilia Tuareg 660. E com um braço oscilante em alumínio de imagem simples e robusta que aciona um mono amortecedor KYB com depósito externo de gás. Isto para garantir um bom funcionamento em todas as situações, limitando os efeitos do aquecimento causado por uma utilização intensiva.
O que pudemos comprovar após um ritmo vivo em alguns estradões bastante esburacados, mantendo a mesma eficácia ao chegar ao asfalto. Ajustável em pré-carga (com chave específica) oferece um comportamento aceitável embora seja aconselhável afinar a extensão para garantir que a roda traseira volta mais rapidamente ao solo. Sobretudo em pisos mais degradados, onde, com o ‘set-up’ de origem, mostrou-se algo saltitona.
Qualidade apercebida e real
Na dianteira, a forqueta invertida KYB sublinha o elevado grau qualitativo dos componentes. Com 41 mm de diâmetro é inteiramente ajustável (pré-carga, compressão e extensão em cada uma das jarras) e, tal como na traseira, oferece um curso de 200 mm. Apesar de uma ligeira aspereza nos milímetros iniciais de funcionamento, talvez pelo facto de terem apenas 200 quilómetros, oferecem uma boa leitura do piso. E uma progressividade que acabou por surpreender, sendo capaz de aguentar as maiores pancadas em fora de estrada como as mais abruptas mudanças de direção em estrada. Ou seja, ampliando a facilidade de colocar em viragem e de saltar de curva em curva, mesmo a ritmos mais elevados.
Momento em que sobressai a enorme leveza, patente não só no peso a seco (175 kg) mas, sobretudo, na facilidade em todas as manobras. Seja a baixa velocidade, e até mesmo com o motor desligado, como numa reação de última hora para evitar um buraco na estrada. Os 185 kg anunciados em ordem de marcha (que andarão perto dos 200 kg com os 17,5 litros de gasolina que o depósito pode acolher), acabam assim por parecer menos. De tal forma que, por vezes, essa sensação de leveza sobretudo da dianteira, leva a questionar se não será melhor instalar um amortecedor de direção…
Sonhos de evasão
Uma agilidade bem evidenciada com ajuda do equipamento pneumático de origem chinesa. Novidade absoluta na gama do fabricante CST, os Ambro A4 revelaram uma eficácia em estrada que superou as expetativas, permitindo ângulos assinaláveis em curva sem qualquer preocupação. Com um desenho muito parecido com os Pirelli Scorpion Rally STR, portaram-se de forma aceitável nas incursões em terra. Mas, também aqui, uma nota importante para o facto de, devido às dimensões utilizadas, existir uma enorme oferta de pneus de perfil mais endurista. Seja em 90/90 x 21” na dianteira como o 140/70 x 18” usado na traseira. Ambos tubeless graças às rodas de raios tangenciais.
Para aqueles que já se imaginam a calcorrear os trilhos do ACT (Adventure Country Tracks), do (TET) Trans Euro Trial ou do Portugal Lés-a-Lés Off-Road, outra boa surpresa. A CFMOTO 450MT oferece a possibilidade de desligar o sistema de controlo de tração e o ABS da roda traseira. Variante ‘off-road’ acionada, mesmo em andamento, com pressão de 3 segundos num botão bem visível, à distância do polegar esquerdo.
Basta cortar gás para ativar o sistema da mesma forma que com um simples toque no mesmo botão, com acelerador fechado, volta a estar disponível o TCS da Bosch e ABS, de dois canais, da mesma marca. De notar que a desativação pode ser feita, de forma separada, através do painel de instrumentos. Além de que as duas funções voltam a ficar ativas, de forma automática e por uma questão de segurança, ao desligar a ignição. Sistema extremamente prático que permite entrar nos caminhos de terra sem a necessidade de parar, e que de importância capital para uma utilização aventureira.
Segurança em estrada… e fora dela
De igual forma, o sistema de travagem parece pensado maioritariamente para uma utilização mais fora-estradista. O disco simples de 320 mm diâmetro usado na dianteira é um dos exemplos. A sua montagem prende-se com a diretriz de reduzir massas não suspensas e melhorar a reação da dianteira. Nomeadamente devido ao menor peso face à opção de duplo disco, aqui acompanhado por um sistema J. Juan com pinça radial de 4 pistões. Que garante elevada progressividade e um controlo bastante preciso em todas as situações.
Único senão, e apenas em travagens realmente fortes, daquelas de esgotar o curso da forquilha, é a ligeiríssima tendência sentida no guiador para aumentar a força exigida do lado esquerdo. Isto para contrariar o efeito giroscópico mais acentuado pela dimensão do disco e pelo facto de ser apenas de um dos lados. Travagem potente e doseável na dianteira, bem melhor do que na traseira, onde, desligando o ABS o disco de 240 mm com pinça de pistão simples denotou excessiva tendência a bloquear. O que dificulta o controlo em descidas mais abruptas nos pisos mais escorregadios
Mas se toda a parte ciclística e eletrónica foi pensada para concretizar sonhos de liberdade de todos os motociclistas, o que dizer do motor? Um bloco de fabrico próprio e sem paralelo, para já, em outras marcas que é conhecido da ‘naked‘ CFMOTO 450NK e da desportiva 450SR. Idêntico em termos de medidas (449,5 cc e 72 x 55,2 mm) mas diferente no que ao comportamento diz respeito.
Menos potência, mais binário
A CFMOTO 450MT exibe uma potência máxima de 41,5 cavalos às 8500 rpm contra os mais de 46 cv (às 10 000 rpm) das irmãs estradistas. Mas, em contrapartida, tem um binário mais elevado, com pico de 44 Nm obtido às 6500 rpm contra os 39,3 Nm às 7750 rpm. Números conseguidos com alterações na eletrónica bem como através do menor diâmetro das borboletas de admissão. E que tem reflexos naturais nas curvas de força do único bicilíndrico paralelo da categoria (e único abaixo dos 700 cc) com desfasamento de 270.º entre a ignição dos cilindros. Como resultado apresenta uma resposta muito linear e uma sonoridade única, além de garantir maior facilidade de utilização em todas as situações, nomeadamente em TT. Realce para o som do escape, realmente entusiasmante e dispensando desde logo a montagem de uma qualquer ponteira opcional.
Na prática estas mudanças refletem-se numa melhoria em regimes baixos e médios, com resposta mais imediata e forte em acelerações a velocidades mais baixas. Tem menos alma em altas rotações e menor velocidade de ponta (cerca de 155 km/h contra quase 200 km/h) mas ganha em facilidade de condução e prazer em TT como nas estradinhas mais recortadas. Tanto mais que, sempre a pensar no ‘off-road’, a cremalheira de 47 dentes torna a relação final mais curta. Bastará a adoção de uma cremalheira com menos dois dentes ou um pinhão com mais um para conseguir uma velocidade de cruzeiro mais… turística.
Mudança que poderá dar outra vida à caixa de velocidades cujas relações estão muito próximas entre si. Colmatando a desvantagem em termos de alongamento com a perda mínima de rotação quando se troca de relação. Trocas que, apesar de uma embraiagem (por cabo) super macia, se mostraram algo metálicas, duras mesmo, pedindo mais quilómetros para aferir o real comportamento.
Turismo e aventura de mãos dadas
Denotando grande à vontade numa utilização em ‘light off-road’, a CFMOTO 450MT mostrou neste primeiro contato um interessante potencial turístico. Agilidade e estabilidade são conjugadas com o conforto a bordo e uma completa lista de acessórios. Do conjunto de malas em alumínio ou o descanso central para acrescida versatilidade, até ao para-brisas Touring para maior proteção ao condutor e passageiro. Passando pelas proteções tubulares para o depósito e cárteres ou pela proteção inferior do motor. Além dos faróis suplementares ou o banco mais alto.
Opcionais que enriquecem sobremaneira uma lista de equipamentos onde não falta a iluminação integral em LED (piscas incluídos) ou o painel TFT de 5 polegadas. Que, mau grado os caracteres pequenos, oferece uma legibilidade de bom nível e com grande facilidade de utilização do menu. Isto porque conta com um conjunto de comandos intuitivo e botões de bom toque, além da conetividade permitida pela app CFMOTO Ride.
Claro que, numa perspetiva turística, há que enaltecer o depósito de 17,5 litros de capacidade que deverá permitir ultrapassar os 300 km sem grandes problemas. Dessa forma, durante um dia de condução intensa e longe das melhores condições de economia de combustível, o painel exibiu uma média de 5,2 L/100 km. Perfeitamente aceitável atendendo ao tratamento brutal a que foi sujeita a CFMOTO 450MT e que, muito facilmente, baixará para números na casa dos 4,5 L/100 km.
Um preço do caraças!
Em resumo, e com tantos trunfos, resta apresentar o mais forte argumento desta chinesa de imagem e qualidade europeia: o preço! Afinal, um valor de 5990 euros, com IVA incluído mas sem documentos e impostos, é mesmo extremamente apetecível.
No entanto, mais do que deixar-se guiar apenas pelo preço, por comentários de desconhecidos ou de amigos pouco esclarecidos, o melhor é conceber uma opinião própria. O que é possível fazer através da marcação de um teste da CFMOTO 450MT, bem como de outros modelos da marca e de forma muito simples. Desse modo podes ir ao concessionário que mais te convier e à hora que te der mais jeito. E se disseres que vais da parte de MotoX.pt podem nem te fazer um desconto, mas mostras que estás bem informado…