As febras e os secretos, os filhos, a magia e os amigos.
Junho 8, 2022
Texto: Alex Kossack Não sou jovem, também não sou assim tão velho, mas já não tenho idade para ir para o Cabo da Roca de fato de treino, malinha na perna, nem com os joelhos a arrastar pelo chão. Acho que nem quando era jovem o faria, mas cada um é como cada qual. Agora…

- Texto: Alex Kossack
Não sou jovem, também não sou assim tão velho, mas já não tenho idade para ir para o Cabo da Roca de fato de treino, malinha na perna, nem com os joelhos a arrastar pelo chão. Acho que nem quando era jovem o faria, mas cada um é como cada qual. Agora é moda, isso, o queixume e o vegetarianismo. Todas as modas passam, eventualmente.
Dizia eu, não esfrego joelhos e, aliás, espero que assim continue por muitos anos, pois quando os esfregar no chão, quer dizer já o fundilho raspou também. Isso não quero.
Às vezes lá me cruzo com um retardado testicular que se atravessa à frente, mas como sei o que a casa gasta ao Domingo, exerço mais atenção e lá vou indo ao meu ritmo. Não me queixo.
É um bocado como ter de desculpar patetices de alguém, um pouco como dizia o outro, o barbudo da cruz: “não sabem o que fazem”. Ou sabem mas não querem saber. Sejam é felizes, e tenham cuidado, gosto em geral de toda a gente, mas não tenho pachorra para gente. Febras com alguma gente ao lado é bom.

Mas vou lá ao ponto mais a Oeste há muitos anos, quiçá por nunca ter ido a roçar apêndices corporais pelo chão, nem nunca ter tido pretensão de o fazer.
Até porque não creio seja a forma mais segura e eficaz de curvar fora de uma pista. Mas cada um roda e curva como quer, e mete os joelhos onde bem lhe aprouver, quero é que não me chateiem. Sejam felizes e tenham amigos. Febras e secretos com bons amigos, é do melhor que há.
Esta semana foi importante. Tenho, finalmente, os meus dois filhos a andar de moto comigo, que emoção!
Após uma longa espera o meu mais novo, agora com 16 anos, tirou a carta de “tartaruga motociclística” para poder andar na sua 125 de meio cavalo, que por sinal anda à velocidade do sono, e juro poder ser ultrapassada por tartarugas.
Mas ainda bem que assim é. Acho que as nossas 50 em 1981 andavam mais, sei lá eu. Eu acho que sim. Pelo menos a emoção do disparo dos 2 tempos era maior.
Também deixei as 2 tempos há muitos anos, nunca foram a minha predilecção, a não ser as de pista da altura.
Depois de ter começado a andar em motos a 4 tempos e com 750cc, achava a 2 tempos coisas de putos. Ainda hoje não me tocam em nada. Gostos, e eu tenho os meus. Só gosto de motores 750 a 4 tempos. Esquisitices minhas. Não me convidem para comer febras, quero lá saber!!

O Luís… após um ano e meio de treino e de voltinhas ilegais em estradas fechadas, ele lá aprendeu a andar de moto.
Mas não aprendeu a andar de moto, e falo daquele andar de moto que vai à defesa, o tal que a experiência de estrada dá e que garante longevidade na estrada, como a que já levo neste fígado gasto e ossos acabados.
Aquele andar de moto em que há que contar sempre com os patetas que por aí andam, e o andar de moto que ensina trajectórias, escapatórias, curvas e rectas, travagem antes da curva, andar em grupo e, acima de tudo, a contar com o que o infeliz que vem a 200 para mudar o tampão e passa rente, faz ou irá fazer no próximo cruzamento.
Isso cabe-me a mim, e de certa forma ao irmão mais velho, a quem ele dá mais ouvidos, e que acha ser o super-homem dele, mas também e por simpatia aos meus amigos de há 45 anos, a quem ele se juntou este passado Domingo pela primeira vez. Foi connosco ao Cabo da Roca, aos 16 anos, tal como eu ia de 50 em 1980.

Adorei ver o Orlando atrás dele, tal com vi o Spirella atrás do mais velho há 2 anos, o Luis Rating e o Júlio a esperar, e no fim, ninguém entrou na Malveira sem que estivéssemos todos juntos de novo. Com estes como febras, secretos, bebo umas vinhaças e são gente que entra em minha casa como se fossem meus irmãos. E são, pelo menos ao Domingo de manhã. Acho que nenhum de nós curva de apêndices no chão, e bem rápido andamos. É isso que quero ele aprenda.
Mas não foi para o Cabo da Roca assim às 3 pancadas logo no primeiro Domingo com carta, como se fosse um toureiro à porta dos curros à espera da saída de um touro de 500 quilos. Não.
No Sábado fui com ele, e com o irmão mais velho, em que através dos milagrosos intercomunicadores lhe explicávamos trajectórias, zonas de travagem, e o que contar na subida e na descida. Revezávamo-nos, ora eu à frente ora o irmão, e assim fomos e viemos.
Fez assim o seu primeiro Cabo da Roca no Sábado, ainda tremia e com alguma hesitação, agarrado ao guiador como se disso dependesse a sua vida, lá foi e lá veio. Fomos pelo Pisão.
Dormiu feliz espero, embora apreensivo, pois deixou a moto cair sem querer no sábado e no Domingo lá fez o percurso que fazemos todos os Domingos de manhã. A ida do Estoril ao café em Carcavelos, depois a marginal, Malveira e Cabo da Roca.
Portou-se bem, aprendeu e viu o que é, como andam lá e o que a casa gasta.

Cabe-nos a nós agora, os mais velhos, transmitir os bons ensinamentos, para que um dia, com a minha idade, ele possa dizer que vai fazer uns grelhados com os amigos de há 40 e 50 anos, e comer umas febras e uns secretos.
Cabe a nós mostrar que não precisa de truques para fazer magia. Ela sai naturalmente,
PS. Hoje pediu um capacete para levar uma miúda a passear de moto. Essas tretas ele aprende sozinho.
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