Álvaro Bautista e Giulio Nava: a dupla (finalmente) campeã mundial!
Autor: Fernando Pedrinho
Novembro 13, 2022
Foram sete os anos necessários para Álvaro Bautista e Giulio Nava, o seu chefe de equipa, alcançarem o título mundial de Superbike, depois de uma entrada de rompante em 2019 na estreia da Ducati Panigale V4R. Namoro e separação em MotoGP, foi o Mundial de Superbike que os voltou a juntar, até hoje, num percurso…


Foram sete os anos necessários para Álvaro Bautista e Giulio Nava, o seu chefe de equipa, alcançarem o título mundial de Superbike, depois de uma entrada de rompante em 2019 na estreia da Ducati Panigale V4R.
Namoro e separação em MotoGP, foi o Mundial de Superbike que os voltou a juntar, até hoje, num percurso e perfil deste técnico que vale apena recordar.
- Texto: Fernando Pedrinho
- Fotos: WorldSBK, Aruba.it Racing Ducati e Fernando Pedrinho
Nava é já um velho conhecido do ‘paddock’ do MotoGP e, ultimamente, do Mundial de Superbike. O agora chefe de equipa ‘campeã do mundo’, que sucede ao irlandês Phil Marron, num título que não existe oficialmente, entrou no mundo do motociclismo quando era ainda estudante de engenharia mecânica no Instituto Politécnico de Milão. À procura de algum trabalho como desenhador e projetista, Giulio Nava foi aceite como estagiário no seio da Yamaha Itália, mas a saída de um engenheiro de dados da equipa de competição abriu repentinamente uma porta diferente ao Lombardo natural de Lecco, a cidade banhada pelas águas do lago Como, situada a cerca de 50 quilómetros a norte de Milão.


A oportunidade surgiu em janeiro de 2004 e Nava manteve-se como engenheiro de dados (ou telemetrista, se preferirem) até ao final de 2009, tendo trabalhado com pilotos do calibre de Valentino Rossi ou Ben Spies, que venceu o Mundial de SBK para marca dos três diapasões em 2009. Em 2010 fez um ano como projetista de quadros para a recém-formada categoria de Moto2, com a Rapid Inside, de Marcello Fantuzzi, onde trabalhou no projeto da GP210 para o mundial, com a qual a RSM Team Scott fez alinhar Alex de Angelis e Niccolò Canepa. O piloto de San Marino ainda chegou a pontuar duas vezes, conseguindo um décimo lugar em Sachsenring, altura em que as ‘comadres’ se zangaram e Scot optou por outros construtores.
No ano seguinte o apelo das pistas foi mais forte e Nava ingressa no colosso HRC, de novo como analista de dados e responsável de eletrónica, trabalhando com pilotos como Casey Stoner, Marc Márquez ou Dani Pedrosa.
A núpcia
Foi em 2015 que a dupla Álvaro Bautista / Giulio Nava se formou, curiosamente a pedido do talaverano, hoje consagrado como campeão mundial de Superbike. Ambos optaram por integrar o projeto de MotoGP da Aprilia, conduzido pela equipa de Fausto Gresini, com a RS-GP, ano em que o espanhol foi o melhor das motos de Noale, ao terminar em décimo sexto, com 31 pontos, bem melhor que Marco Melandri, que não somou qualquer ponto.

Já no ano seguinte, Bautista terminou de novo como melhor das Aprilia, com Stefan Bradl como companheiro de equipa, fechando com 81 pontos no décimo segundo lugar, e logrando duas sétimas posições no Japão e na Malásia como melhores resultados da época.
Álvaro saiu da Gresini para pilotar as Ducati Desmosedici, da equipa de Jorge Martinez ‘Aspar’, separando-se de Giulio Nava, que se manteve por mais dois anos na equipa da Aprilia, tendo ao seu cuidado Sam Lowes. O britânico teve uma época complicada, pontuando apenas duas vezes (França e Japão), somando uns escassos cinco pontos como piloto de fábrica. Já Bautista repetiu o décimo segundo portos, com 75 pontos, com um sensacional quarto lugar na Argentina, prova ganha por Maverick Viñales.

O último ano de Nava na Aprilia viu Sam Lowes dar lugar ao excêntrico compatriota, Scott Redding, debaixo de algumas críticas, como as de Cal Crutchlow, a acusarem a Aprilia e a Gresini de terem tratado mal o gémeo Lowes e a questionarem a capacidade técnica de Nava. Redding somou 20 pontos, quase a metade dos alcançados por Aleix Espargaró, alcançando o seu melhor resultado na última corrida da época, debaixo da chuva de Valencia, onde foi décimo primeiro.
O início na Ducati
O reencontro entre Álvaro Bautista e Giulio Nava ocorre em 2019. A Ducati havia apresentado a espantosa Panigale V4R, a estreia da marca com motores de quatro cilindros em V nas motos desportivas de série depois de anos a fio a correrem com motores bicilíndricos, pois estes já não conseguiam acompanhar as tetracilíndricas de 1000cc, apesar dos extra 200cc de capacidade. Tirando muitos dos conceitos utilizados nos protótipos de MotoGP, a Ducati e a Aruba.it foram buscar o pequeno piloto espanhol, que trazia no seu palmarés o título mundial de 125cc, alcançado no Estoril em 2006. Para o acompanhar, Giulio Nava foi de novo ‘requisitado’ pelo talaverano, para tomar conta da sua moto. As primeiras corridas foram de sonho, com Álvaro a dar uma autêntica abada a Jonathan Rea e a todos os demais. A Panigale V4R era um míssil mas complicada de guiar com os duros pneus da Pirelli.




Só Bautista parecia saber como guiar a moto bolonhesa, com Chaz Davies a demonstrar sérias dificuldades em afirmar-se com a V4 como havia feito tão bem com a Panigale de dois cilindros em V. ‘BauBau’ venceu onze corridas consecutivas, chegando à quinta ronda com 53 pontos de avanço sobre o norte-irlandês. Este deu a volta em Imola e Bautista iniciou a ‘debacle’ na segunda corrida de Jerez, ao cair na segunda corrida de Jerez de la Frontera, quando comandava já isolado no início da segunda volta. Depois somaram-se os erros e quedas, acabando o campeonato em segundo, mas a 165 pontos de Jonathan Rea.

Da via-sacra ao paraíso
O dinheiro falou mais alto no final de 2019. O HRC acenou com um cheque chorudo e o desafio de desenvolver a Honda CBR1000RR-R Fireblade e torná-la numa futura campeã de Superbike, como já o haviam feito as VFR750R RC30 e VTR1000 SP-2. Nava foi junto com Bautista para a Honda, mas o que se viu foram dois anos de uma autêntica via-sacra, com a Honda a ser uma moto complicada de pilotar e a sofrer de imensas falhas eletrónicas que causaram quedas atrás de quedas, não só aos pilotos de Superbike, mas também aos de MotoGP. Com alguns pódios de permeio, Álvaro Bautista e Giulio Nava, a par de Leon Haslam e Gorka Segura, desempenharam um papel primordial no desenvolvimento das ‘lâminas de fogo’, que têm mostrado rapidez nas mãos de jovens lobos como Iker Lecuona e Xavi Vierge.

Mas dizem as más-línguas que o homem forte da Ducati Corse, e um ex-Aprilia, terá exigido o regresso de Bautista e Nava para o ataque ao título em 2022, depois de Scott Redding, Chaz Davies e Michael Ruben Rinaldi não terem logrado desafiar a supremacia de Jonathan Rea e Toprak Razgatlioglu. Um renovado Álvaro Bautista, extremamente consistente e praticamente isento de erros (apenas uma queda em Donington), ditaram o regresso da Ducati aos títulos no Mundial de Superbike, numa época de ouro em que ganharam tudo que havia para ganhar neste campeonato e em MotoGP, na estreia da Ducati a vencer ambos os campeonatos.



Ainda falta a ronda australiana para o final do mundial e os treinos de pré-epoca previstos para Dezembro e início de 2023 poderão mostrar o que pode mudar para o próximo ano. As pressões para mudar os regulamentos e tirar alguma da vantagem que a Panigale V4R têm em linha reta são muitas e resta saber o que fará a FIM e DORNA nesse sentido.
Mas, para já, é tempo de champanhe e celebração.

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