Está feito! Álvaro Bautista revalidou o título no primeiro dia da última ronda do campeonato, na prova caseira por terras andaluzas. Depois de garantir a ‘pole position’ e mostrar quem era o mais rápido nas curvas de Jerez de la Frontera, o talaverano limitou-se a liderar a corrida de princípio a fim, garantindo a assim o segundo campeonato de pilotos sucessivo.
- Texto: Fernando Pedrinho
- Fotos: Pirelli e Fernando Pedrinho

Toprak Razgatlioglu bem tentou, mas ao qualificar na terceira linha da grelha sabia que a tarefa de chegar à frente e esperar que algo se passasse com o piloto da Ducati não passaria de uma vaga esperança de adiar tudo para domingo.
O turco ainda se chegou ao pneu de trás da moto da Aruba.it, alcançando o melhor tempo da corrida logo à quarta volta, mas Bautista limitou-se a apertar um pouco mais o ritmo e vencer sem contestação.
Recordista dentro de casa
O espanhol tornou-se assim no primeiro piloto da Ducati a vencer dois campeonatos consecutivos desde o britânico Carl Fogarty , em 1998 e 1999. E tornou-se no piloto com mais vitórias do universo Ducati, e como me dizia Serafino Foti, diretor da Aruba.it Racing Ducati, mesmo com a inclusão da ‘Superpole Race’, se virmos a média de vitórias por tempo de permanência na marca, Álvaro bate todos os pilotos de referência da casa de Borgo Panigale, incluindo Fogarty.
Ao alcançar a sua vigésima quinta vitória da época, Bautista era naturalmente um homem feliz, após a longa volta de celebração no circuito andaluz. Mudou de fato, trocou de capacete e foi até às bancadas onde se ajoelhou perante os fãs. “Este ano foi muito melhor que a de Mandalika do ano passado (risos). No ano passado estava morto!”.

“Não cometas erros!”
O titulo estava praticamente no bolso, pois bastavam dois míseros pontos para manter o ceptro em casa. “Toda a gente dizia isso desde que cheguei de Portimão”, começou por referir, “mas eu apenas penso em dar o melhor que posso. Neste caso seria lutar pela vitória, porque é a melhor maneira de celebrar a conquista de um campeonato”.
Álvaro Bautista confessou ter iniciado a corrida de sábado sob alguma tensão, pelo menos nas primeiras voltas, em parte devido à presença de algumas manchas de humidade (recordar que caiu na sexta feira ao passar sobre uma delas). Conseguindo descontrair, isolou-se na frente para ‘acordar’ a quatro voltas do final. “Quando vi a placa de boxes disse para comigo: não cometas nenhum erro”. Abrandou nas duas últimas voltas e cruzou a reta da meta fazendo o sinal de um coração com as duas mãos. “É o sinal que uso com as minhas filhas. Foi nelas que pensei quando cruzei a meta”.

Toprak, um rival incrível
Seguiu-se um longo cumprimento com o rival de toda a época: Toprak Razgatlioglu. O abraço e conversa foi demorado e hexacampeão Jonathan Rea teve de esperar na fila para saudar o renovado campeão. “Deu-me felicitações e agradeci-lhe. Ele fez uma época incrível. Mesmo com as 25 vitórias que alcancei este ano, ele conseguiu manter o campeonato em suspenso até ao fim, sem cometer erros. Ter um rival como ele torna-te a vida muito difícil, pois não podes errar nunca, descontrair numa corrida ou perder pontos.
Este ano, sempre que tive hipóteses de lutar pela vitória tive de o fazer até ao fim. Para bateres o Toprak tens de atacar, nunca podes jogar à defesa. Este ano, em momento algum, pensei em ser mais conservador. Foi sempre ao ataque, porque o Toprak estava lá sempre. É impressionante ter um rival como ele. Obrigado a ele pelo espetáculo que demos durante a temporada”.

Título mais difícil este ano
Como esperado, pelo suspense criado, a conquista deste título foi mais difícil que o primeiro, no ano passado. Em 2023 eramos três pilotos, pelo que houve maior ganho e perda de pontos em cada corrida, circunstância em que podes abrir maior vantagem. Mas esta época, especialmente depois da sua metade, foi entre o Toprak e eu. Ele nunca errou e eu tive de estar sempre a 100%. Quando ganhas um campeonato pela primeira vez, tiveste de ir atrás dele. Mas este ano tive de o defender, o que é mais dificil, pois toda a gente espera que ganhes sempre”.
Bautista revelou não se ter preocupado muito com a condição de campeão com que iniciou a temporada. “Honestamente, não senti essa pressão, mas ter o número um na moto – de que me orgulho muito – toda a gente que via minha moto me identificava imediatamente como o piloto mais rápido, o que adiciona alguma pressão. Contudo, confiança para o defender foi algo que nunca me faltou”.

Ficar em casa?
Tal como sucedeu com Jonathan Rea, terá Álvaro Bautista motivação reforçada para ir atrás do terceiro título e por aí fora? “Depende! Quando experimentar a moto adaptada ao novo regulamento respondo-te. Sobretudo com a questão do peso adicional. Se achar que é perigoso pilotar a moto com mais peso, porque a moto se mexe mais e deixar de me divertir em cima dela, mas também porque se tornará mais perigosa, nesse caso prefiro parar e ficar em casa”.
Com os testes de pré-temporada a iniciarem-se já na terça-feira, Álvaro tem hipótese de testar não só a sua Panigale V4R já adaptada ao regulamento técnico do próximo ano mas também a Desmosedici GP23, como treino para a corrida que irá disputar em Sepang, na Malásia, porque Michele Pirro, o piloto de testes da marca italiana, se encontra ainda a recuperar da queda da última corrida do CIV. “A Ducati vai testar algumas soluções para 2024 e se o Michele não puder eu cá estarei para ajudar no que for necessário. Vai ser bom ganhar algum ‘feeling’ com a moto antes de embarcar para a Malásia”.