Texto: Fernando Pedrinho
Imagens: Pramac Ducati e MotoGP
A queda de Jorge Martin Almoguera, o piloto espanhol da Pramac Ducati no primeiro dia de treinos do GP de Portugal, foi impressionante pela dinâmica mas também pelas consequências físicas para o piloto, em nada diretamente proporcionais à espetacularidade da mesma. Cada vez mais refinados em termos de detecção do momento zero do acidente bem como no acionamento do sistema de enchimento das almofadas, os ‘Air bag’ eletrónicos constituem hoje verdadeiros anjos da guarda dos pilotos de ‘MotoGP’.
Ao perder a frente da sua Desmosedici GP21 na travagem para a rápida curva 6 do Autódromo Internacional do Algarve, o espanhol de San Sebastián de los Reyes, que fica na zona norte de Madrid, deslizou pelo asfalto a alta velocidade, mas ao passar para a gravilha o piloto enrolou-se numa série de cambalhotas até parar, enquanto a sua moto quase chegava aos limites da zona de desaceleração.
A análise da ‘caixa negra’ do sistema Tech-Air, o ‘air bag’ eletrónico da Alpinestars, permite tecer uma análise sobre o nível de energia envolvido nesta sequência de cambalhotas. Em primeiro lugar, a duração do evento é de uns impressionantes 5,2 segundos, o que para quem é o ator de tal ato parece uma eternidade.
A plataforma de inércia do ‘Tech-Air’ deteta a projeção do piloto cerca de 25 milisegundos antes do primeiro impacto, enquanto a almofada protetora enche por completo em pouco menos de cinco milissegundos antes do primeiro impacto. Jorge Martin sofre, em seguida, uma série de violentos impactos, quatro dos quais atingem uma força de desaceleração que toca (e supera em dois casos) os 25G. Trocando por miúdos, calculando que o peso do espanhol seja de 65 kg, o seu corpo e o ‘air bag’ foram submetidos a uma força de 1,5 toneladas, ou seja, o peso idêntico de um carro familiar!
O que noutros tempos poderia representar o fim de uma carreira desportiva no motociclismo de velocidade, para não ‘pintar’ um cenário mais negro, ficou-se por algumas lesões de pequena gravidade e que foram já resolvidas mediante operação cirúrgica: fraturas do primeiro metacarpo do polegar da mão direita, escafóide e maléolo medial do tornozelo direito e meseta tibial do joelho da perna esquerda. Curiosamente, os membros que não têm qualquer proteção do sistema ‘Air-Bag’ e numa queda são submetidos a uma maior velocidade angular.
Perante este cenário, o madrileno estará fora das pistas por cerca de mês e meio, aventando-se a possibilidade de regressar no Grande Prémio de Itália, a disputar no circuito de Mugello no último fim de semana do mês de Maio, traçado habitualmente favorável às Ducati e não tão exigente fisicamente como outras pistas do calendário.
Tendo ascendido ao estrelato da ‘MotoGP’ este ano, depois de um bom final de época em 2020, na Moto2 e com a equipa de Aki Ajo apoiada pela Red Bull e KTM, o homem de San Sebastián de los Reyes capitalizou no bom momento da equipa Pramac na dupla ronda do Catar, onde liderou quase até final na segunda corrida, sendo batido por Fabio Quartararo e o seu companheiro Johan Zarco, mas ascendendo ao pódio logo na sua segunda corrida como ‘rookie’ da categoria rainha.
Para Jerez de la Frontera e Le Mans, a moto de Martin será tripulada por Esteve ‘Tito’ Rabat, que assim regressa aos comandos de uma moto que conhece bem e este ano está entre as mais competitivas do plantel MotoGP, a par das Yamaha e Suzuki. O catalão passou-se da ‘MotoGP’ para o Mundial de ‘Superbike’ onde alinhará com uma Panigale V4R da Barni Racing.