A tarefa hercúlea de Scott Redding
Autor: Fernando Pedrinho
Julho 2, 2021
Com o primeiro dia de treinos já a decorrer em Donington Park, Inglaterra, Scott Redding chega à corrida de casa com um défice de 45 pontos para o líder do campeonato, Jonathan Rea, e 25 para o novo ‘míudo do bairro’, Toprak Raglatioglu. Ganhando e perdendo como um jogador de casino nas duas primeiras rondas,…


Com o primeiro dia de treinos já a decorrer em Donington Park, Inglaterra, Scott Redding chega à corrida de casa com um défice de 45 pontos para o líder do campeonato, Jonathan Rea, e 25 para o novo ‘míudo do bairro’, Toprak Raglatioglu. Ganhando e perdendo como um jogador de casino nas duas primeiras rondas, em Misano o britânico não conseguiu fazer jogo igual com o trio da frente, onde se incluiu o seu rapidíssimo companheiro de equipa, Michael Ruben Rinaldi.
O quinto posto a mais de meio segundo do surpreendente Garrett Gerloff, mostram que Scott e a sua equipa terão de tirar um coelho da cartola se realmente querem ter uma palavra a dizer até ao final do campeonato.
- Texto: Fernando Pedrinho
- Fotos: WorldSBK, Aruba.it Ducati, Jamie Morris

Apontado por todos como o real opositor a mais um domínio verde (Rea e a Kawasaki), a inconstância de resultados cedo relegou Redding para o terceiro posto da tabela, a uma distância que permitirá ao norte irlandês ficar em casa para as duas mangas de Assen e, ainda assim, poder continuar na frente do homem da Panigale V4R.
Um lugar na linha da frente em Misano reabriu as esperanças de um fim-de-semana consistentemente positivo para o natural de Gloucester. Mas a corrida foi algo diferente e mais em linha com as dificuldades sentidas nas sessões de treino. Não tenho aderência e sensibilidade na roda a da frente, lamentava-se Redding, penando por 21 voltas enquanto os seus adversários se esfumavam no horizonte, com dois momentos de queda iminente, mesmo rolando mais devagar. Foi claramente um dia em modo de sobrevivência e manter-me em cima da moto. E é pena porque a Ducati do Michael Ruben parece estar a funcionar de uma forma excecional. Logo na primeira volta que fiz atrás dele deu para perceber o nível de tração que a moto dele é capaz de alcançar. Ele conseguiu passar a toda a gente, quando, onde e como quis. Abriu o acelerador e foi-se embora! Pode ter sido a coincidência de uma boa afinação da moto nesta pista e para esta prova, mas a diferença foi muito grande, ainda para mais quando todos andámos com o mesmo pneu traseiro.

Redding não esconde o fato de andar em círculos, tal como em Aragão, e não encontramos forma de melhorar a situação. Quando vi o Jonathan ter aquele momento na corrida de sábado, ainda pensei que teria algumas hipóteses de ficar à frente dele, mas bolas, depois daquele susto voltou a andar rápido como sempre. Até porque há uma diferença entre não ter sensações da moto e ser capaz de pilotar, ou não sentir a moto e não poder imprimir um ritmo mais forte, que é onde nos encontramos atualmente.
Já vimos que Redding e Chaz Davies são capazes de ganhar com a V4R. Mas também percebemos que quando a moto italiana funciona na perfeição, Rinaldi e Álvaro Bautista, num passado recente, conseguem ser rapidíssimos e bater toda a concorrência de forma evidente. Será a Panigale V4R uma moto que se adequa melhor a pilotos de baixa estatura? Não necessariamente, porque a moto foi desenvolvida pelo Chaz que tem praticamente a minha altura (1,84m).

Mas é possível que os pilotos mais baixos tenham vantagem em condições de pista baixa aderência do asfalto. Aí, ter mais vinte quilos a empurrar o pneu da frente não é o que tu mais necessitas. Sendo mais leve, podes parar a moto com menos esforço e colocando menos tensão no pneu dianteiro. De contrário chegas à curva, a frente escorrega em demasia e perdes a trajetória e tempo, que podem representar duas décimas de cada vez que acontece. Depois, se tentas aliviar a frente e pilotar de forma mais descontraída o teu tempo por volta ressente-se. Voltas a puxar, andas mais rápido mas também com muito mais risco de cair. É aqui que vejo o Michael muito confortável e à vontade, o Jonathan com algumas dificuldades e o Toprak a conseguir andar rápido mas não de uma forma fácil. Posso fazer duas voltas rápidas mas não consigo ser consistente, porque luto com a moto e estou preocupado em ter todos os detalhes de forma correta. Em vez de pensar em puxar e aumentar o ritmo, dou por mim a pensar em não cair, não vale a pena. Não estou chateado nem irritado comigo mesmo, faço o que posso e a situação é a que é, dizia-nos encolhendo os ombros.

Redding falou com o homem máximo da Ducati Corse, Luigi Dall’Igna na visita deste ao circuito na sexta feira de treinos. Falámos de aspetos que eu acho que temos de melhorar e foi bom falar cara-a-cara, pois não vemos assim com tanta frequência. Mais isso não me ajuda neste momento preciso.
Mas a Ducati já virou a moto de rodas para o ar e tentou tudo para reverter a situação? Sabes, o problema é que o problema permanece semelhante ao que sentimos em Aragão. O Rinaldi foi rapidíssimo no Motorland, no ano passado. Aqui, com condições semelhantes, voltou a ser mais rápido que todos. Só conseguimos andar a este nível quando metemos o pneu que qualificação que, por ter mais aderência ajuda a traseira a parar e a virar a moto, e só por isso consegui um lugar na linha da frente. A questão é que se isso se deve à estatura do piloto nestas circunstâncias, todas as alterações que façamos só nos vão manter a dar voltas em redor do problema sem acertar na solução. Reconheço que estamos com dificuldades…

A Ducati contratou Redding para ser o campeão mundial de Superbike. Terá a marca de Bolonha feito o suficiente para ajudar o britânico a contornar este momento complicado? Eles também querem ganhar, querem trabalhar e desenvolver material, seja comigo ou não, mas acho que há algumas coisas que vão ter de mudar e a equipa já percebeu isso. Testar em Jerez de la Frontera com uma temperatura de asfalto de 10 a 12ºC não adianta nada.

Além disso, testar é sempre diferente do que se passa em corrida, mas é difícil desenvolver uma moto à base de testes e é por isso que a Kawasaki é tão boa, ou quando a Ducati tinha a bicilíndrica, em que a moto era muito boa e consistente. Isto acontece porque a moto é desenvolvida e depois fica no ponto com pequenos acertos no fim-de-semana de corrida. E isso é feito corrida a corrida, a moto vai sempre melhorando assim como a compreensão de como funciona. É o que leva a que a Kawasaki mude tão pouco e mantenha a base de um modo constante. Ao passar para a Panigale V4R a Ducati mudou de uma maneira brutal: a arquitetura do motor, o caráter da moto, e por isso vai levar tempo até termos tudo no ponto. Correr nestas condições, para mim, é testar, porque eu não consigo correr para ganhar, mas antes para melhorar a moto para as corridas que se seguem, ou até mesmo para a época seguinte. Para que quando isto volte a suceder possamos resolver com pequenos acertos e não andar quatro ou cinco fins-de-semana sem descobrir nada. A bater com a cabeça na parede!

Obviamente, o calor de Domingo só veio agravar a situação de Redding. Era bem melhor ter passado o fim de semana na praia, disse conformado. Melhorámos nas sensações, mas não na performance. Andei com os da frente no princípio, mas ao fim de quatro voltas o pneu sobreaqueceu, perdeu rendimento e não conseguia virar a moto, comecei a alargar muito as trajetórias e perdi o contato com os da frente. Tirando o Bassani que fez uma grande prova, talvez por conhecer a pista e com o efeito de correr em casa, o Chaz e o Rabat não estiveram muito bem. Por isso acho que se tratou de um caso em que a diferença de estilos de pilotagem pode fazer a diferença com a Panigale V4R, com o Rinaldi muito rápido… F***-se só uma décima mais lento no ‘warm-up’ do que na ‘superpole’ com o pneu de qualificação. Sabia desde cedo que não ia ganhar a corrida por isso entrei em modo de levar o barco a bom porto.
E agora? Voltar a uma página em branco e perceber porque temos estas dificuldades. E isso é o mais difícil porque não compreendemos o que se está a passar. É o meu peso que faz diferença nesta moto? É a nova afinação que temos? É o novo Pirelli SCX traseiro? Ou múltiplas outras coisas? Donington pode voltar a ser muito doce, ou depararmo-nos com os mesmos problemas.

Paradoxalmente Scott acabou por nos dizer que o fim-de-semana de Misano foi positivo no que toca a resolver os problemas anteriormente descritos. Nós percebemos em que direção temos de apontar para que a moto me dê as sensações que eu necessito para a pilotar. O problema é que a prestação que se esperava viesse associada não apareceu e é esse aspeto que temos de trabalhar. A moto está mais fácil de pilotar mas preciso ser capaz de tirar mais rendimento dos pneus.
Na FP2 de hoje, em Donington, Redding foi quinto, à frente do seu companheiro de equipa, ficando a seis décimas do surpreendente Garrett Gerloff, que a correr pela primeira vez em Donington bateu tudo e todos, provavelmente com o ‘embalo’ que trouxe de Assen, onde substituiu Franco Morbidelli na M1 da Petronas SRT.
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