- Texto e fotos: Alex Kossack
Uma das memórias mais vívidas e mais marcantes que tenho de quando era miúdo, memória que sem dúvida talhou e me incutiu este gosto por motas, foi a Kawasaki 900, a Z1, a verdadeira Kawasentos Novazaki, e foi também a primeira moto a sério em que andei.
Foi ainda antes do 25 de Abril. No tempo das calças à boca de sino, dos colarinhos à Ted Nuggent, das guedelhas grandes, bigode e dos sapatos de biqueira redonda e salto alto.
Por cá andava-se de “motão” nas avenidas das cidades, na América o Travolta abanava a peida a dançar o Vira do Minho enquanto chamava um táxi. Ainda bem que nasci aqui. Corria a guerra do Ultramar, a do Vietnam e era o tempo dos Hippies. Outros tempos.
Nunca mais a esqueci e ainda tenho a imagem dela gravada na memória.
Se fechar os olhos e relembrar, vejo-a hoje como se fosse ontem. Verde escura, enorme, esguia e com 4 escapes que não me cansava contar repetidas vezes, estacionada de traseira para o passeio em frente da antiga pastelaria Suprema na Avenida dos Estados Unidos da América, em Lisboa.
Mesmo parada e no meio de outras motos grandes, a “minha” Kawasentos Novazaki, destacava-se, não sei porquê, ou melhor, sei e bem, mas na altura não o sabia. Já sabia era o que me atraía na altura.
Cada vez que a via parada, ia a correr olhar para o conta quilómetros e contar os escapes mais uma vez, não fosse o homem ter perdido um pelo caminho. Passava horas a olhar para ela, e o dono até era um fulano porreiro, era amigo da minha tia e deixava-me sentar em cima, onde me imaginava a andar nela enquanto fazia ruídos com a boca, misturados com perdigotos. Um dia, quando for grande, vou ter uma Kawasentos Novazaki.
Foi este homem que me disse uma vez: “puto, olha que isto é uma Kawasentos Novazaki”, e assim ficou. Não havia «ninguém na altura que não conhecesse ou não sonhasse ter uma Kawasaki Novecentos, ninguém!
Neste grupo de motos grandes, além da Z1 havia ainda uma Norton Comando azul metalizado, uma CB 750 Four dourada e uma Yamaha qualquer, cujo modelo ignoro. Havia outras mas as que se destacavam eram estas três, com a Z900 a liderar o meu gosto.
Esta foi a primeira mota grande onde andei, atrás claro e à pendura. Lembro-me perfeitamente de ver o dono dela fazer a Avenida de Roma para cima e para baixo, sempre a fundo.
Como na altura os meus pais dividiam Lisboa com a linha, por causa dos meus avós, uma vez até vim com ele de Lisboa pela Marginal, até Carcavelos, com um capacete gigantesco na cabeça. Lembro-me de estar indeciso se me agarrava ao homem ou ao capacete. Optei por me agarrar a ele, o capacete nunca saiu da tola, mas a visão ficava escura cada vez que abanava a cabeça.
Esta moto nunca me saiu da cabeça, e marcou-me mesmo de uma forma inacreditável. Lembro-me de brincar com o meu irmão uns 3 ou 4 anos mais tarde, porque o padrinho dele nos ofereceu duas miniaturas de motos, e lembro-me de me deitar no chão e conduzir a minha mota, a pensar na Kawasaki Novecentos. Sonhava com aquilo.
Cresci com a ideia que aquilo é que era A MOTO da minha vida, era a que eu mais queria e sempre desejei.
Mas eu cresci, e sei que já sou crescido, agora já o posso dizer. Eu sou crescido.
E porque posso dizer que já sou crescido? Porque este ano, passados 47 anos, a kawasentos novazaki entrou de novo na minha vida, e eu disse que quando fosse crescido teria uma!
Apresento-vos o sonho da minha vida, todo ele, a minha Kawasentos Novasaki !